O Francisco chegou até mim por herança.
Quando a minha mãe partiu, como filha única, herdei os seus haveres. O mais precioso de todos, para ela, era o Francisco, um rolo branco que ela adorava e que nunca conheceu grades de gaiola.
Autor: Pipagata | | O Francisco | Pois é, Sr. Francisco passeava-se pela casa, com a leveza de um gato. Quando pelo caminho encontrava os pés de alguém que estivesse sentado, aproveitava para fazer uma paragem e dava uma descansadinha aninhando-se nesses pés.
Adorava “queque”, mas que fosse do próprio dia. Dava bicadinhas suaves no nariz de quem lhe pegasse e era a atracção de quem vinha a minha casa.
De vez em quando enamorava-se das tomadas eléctricas e arrulhava junto a elas. Acabava, certamente, decepcionado com a imobilidade e frieza das mesmas.
Para espanto de todos, viveu perto de 18 anos.
Quando morreu, meti-o numa caixinha de madeira e, em segredo, fui enterrá-lo num canto do jardim público, perto da minha casa.
Um dia, cheguei ao jardim e fiquei em pânico: tinham começado as obras de remodelação. Havia escavadoras por todos os lados, uma autêntica revolução. Temi que o frágil corpinho do Francisco fosse parar à lixeira. Mas não, o jardim foi todo alterado, com excepção do cantinho do meu rolo, que ainda hoje lá repousa. Não é sem emoção que confesso sentir ainda saudades dele.
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