Gwenevere, a prova de que os gatos com FIV não são para abater
A Gwenevere era a minha gata mais velha. Uma linda tartaruga tricolor, adoptada quando nem sabia que existiam essas denominações, e esteve comigo 9 anos.
Um dia fui com a minha irmã e o meu cunhado à Zoófila, para eles adoptarem um cão, pois a cadelinha da minha irmã tinha morrido.
Gweny e Avalon
Eu queria um gatinho, mas não ia numa de adoptar. A minha cadelinha também tinha morrido e o meu gato estava sozinho, mas pensei apanhar algum da rua, pois detesto adoptar de onde há muitos. Fico sempre a pensar nos outros que não têm a mesma sorte.
A minha irmã decidiu que não conseguia escolher entre tantos e eu, sem grande entusiasmo, dei uma olhadela aos gatos. Quando já estava para me vir embora, vi uma gata encostada a um cãozinho, a olhar fixamente para mim, e que parecia dizer "leva-me daqui".
Deu-me um vipe...e trouxe-a. Não me queriam dar a gata e ainda andámos a contar tostões para lá deixar (isto foi há 10 anos e nem sei quem era o fulano).
Fui directa para o Dr. Assis que, ao observar a gatinha, me disse: “Não havia uma mais doente para trazer?”
Tinha coriza, pneumonia, infecção na vagina, má nutrição e não tinha muitos dentes. Idade, talvez 6 meses. Cheiro horrível.
Os tratamentos foram intensivos: antibiótico, vitaminas, broncodilatadores, etc., etc. Xarope não tomava, teve de tomar injecções. Comer, não comia, tinha de ser boca abaixo. Resolvi usar também as mezinhas da vovó, pomadas no peito, vapores, etc. A pobre tinha um cheiro horrível e acho que o meu gato nem refilou com ela, ele que, até ai, não aceitava nenhum, devido ao mau cheiro dela.
Como a miúda não melhorava, ao fim de 15 dias falaram-me pela primeira vez de Fiv e dos testes para detectar a doença. Eu não sabia nada de isso. O teste deu positivo +++++++. Fartei-me de chorar porque pensei que ela ía morrer.
O Dr. Assis acalmou-me. Explicou-me tudo muito bem e disse que ela podia viver muitos anos. Nem pensei em contágios, nada. Só que a podia perder. Todos os dias ela ia à pica e eu, já muito cansada, aprendi a dar injecções para não ter que me deslocar ao vet diariamente.
Era uma gatinha muito fácil de tratar, com um feito extraordinário e deixava fazer tudo.
Isto foi em Janeiro e só em Março ficou boa, mas eu não desistia porque não queria que ficasse crónica. Ela vinha tão fraca que só teve cio no Verão e a esterilização foi adiada para o Inverno, quando já estava completamente boa.
Entretanto morreu o meu gato querido, o meu primeiro gato, esse com história incrível, com cancro e com grande sofrimento.
Com este quadro, havia pouca esperança de que tivesse uma vida prolongada, até porque, naquela altura, os medicamentos eram menos eficazes. Nesse aspecto, houve, na verdade, uma grande evolução.
Pela minha parte, comecei, de imediato, a fazer pesquisa sobre o FIV e o FeLV.
A Gwenevere esteve 9 anos sem adoecer. Teve somente problemas de alergia na pele, que nem se podem considerar doença e que melhoraram com antialérgicos, e teve uma infecção no rabinho porque... era muito gorda e não se lavava bem. Entretanto passou a comer só ração e ultimamente tinha emagrecido 2 kgs (pesava 6 kgs.). Ainda assim, o emagrecimento preocupou-me. Pensei mesmo em cancro, mas feitos todos os exames, análises, RX, etc, constatou-se que estava tudo OK.
Ela é que mandava em casa, estava sempre feliz e se os outros andavam a embirrar, era ela que metia todos na ordem, distribuindo uns estalos.
No vet adormecia na marquesa, levantava o rabinho para o termómetro e se outro a chateava, ela dava um estalo (sobretudo ao Artur, que se porta muito mal). TODA A GENTE DA CLINICA A ADORAVA e foi um daqueles casos espectaculares. Não chegou a fazer interferon nem nada, porque esteve sempre bem. Repetiu o teste e tinha mesmo FIV. Era o meu docinho querido, uma das minhas heroínas, que me ensinou a lutar e que, mesmo muito doente, sempre teve um feitio maravilhoso.
Teria 2/3 dias de vida se não tivesse vindo comigo, porque com o nariz tapado cheio de ranhoca, como estava, não comia. E passados 8 anos, ainda penso no que me fez olhar para ela com aquele olhar especial (juro que não estou a embelezar) e dizer: levo esta, quando tinha ido somente ajudar a minha mana a escolher um cão...
Tive uma epidemia de bordetella (uma bactéria), há um ano e tudo esteve muito doente. Adivinhem quem foi tratada só por precaução, porque não adoeceu???
E depois ainda há quem defenda que os gatos com Fiv são para abater??? O contágio é mínimo, estando tudo esterilizado (sobre isso já nem encontro informação nova, porque já li tudo).
E ADORAAAAAVA A MINHA GWENY que, por sua vez, gostava de toda a gente e até converteu pessoas que não gostavam de gatos.
Mas o FIV não é, realmente, o pior. O pior é a insuficiencia renal, a maior causa de mortalidade nos gatos. E a Gweny com insuficiencia renal deixou-me há um ano, no dia 9 de Janeiro, um dia depois dos meus anos.
Aguentou 3 meses sem queixas nem ais. Ainda a querer os mesmos mimos e a dormir com o grupinho dos 5 (ela, Merlin, Miriam, Igrain, Artur e, por vezes, a Olívia).
Como ela, que mantinha todos coesos, não deixava haver guerras nem discussões, e me entendia em tudo, nunca mais vai haver nenhuma.
Adoro todos, mas a Gweny foi a gata da minha vida. Desde a sua morte que o Merlin se isolou de todos. Vive com 35, mas é como se vivesse só. Ele mamou nela até ao fim.
E a Gweny deixou um vazio que nunca será preenchido. Muitas são as histórias que poderia contar sobre ela. Foram 9 anos juntas, a lutar contra a ignorancia, a má informação, a discriminação em relação à minha gatinha sempre alegre, sempre feliz mas que tinha FIV. Muita gente que lhe fazia festas, parava no momento em que dizia que tinha FIV...
A Gweny, no entanto, ajudou muitos a lutar contra o FIV e, só por isso, a sua vida valeu a pena.
Agora com FIV estão cá a Igrain, A Augusta, A Emma, o Hilário e a Mar.
Foram 9 anos cheios e a minha vida ficou mais vazia desde há um ano.
Muita linda a homenagem à bela Gweny, foi uma lutadora e fez da Ghillie uma guerrilheira! Os nossos animais deixam sempre grande saudade, sobretudo se forem assim tão especiais. A Gweny está a olhar por ti! Ahhh e gostei muito do comentário da anu...
obrigada João e lembra-te foi a Gweny que nos fez conhecer ao chamares Gweny à tua sobrinha cadela. Fiquei logo de ouvido no ar e meti conversa. Lembras? Tens razão em tudo o que dizes. Há casos assim... pena que alguns passem ao lado. E percam estas chances. E a Gweny por algum motivo fez com que eu te conhecesse... e mais que não seja a Iris e o Camilo teem casa nada acontece por acaso.
Minha Gweny especial. Espero ser digna dela.
A Gweny foi mesmo uma gata especial em todos os sentidos. Ela própria era especial. A forma como surgiu na vida da Ana não foi mero acaso. Pelo que me foi dado perceber a Gweny foi um ponto de viragem na vida da Ana. Aprendeu que com amor é possível mudar muita coisa. Aprendeu que as doenças nem sempre são obstáculos instransponíveis, revelam principalmente ignorância e preconceito da parte de muita gente. Aprendeu a lutar, a tratar, a ganhar conhecimento. Aprendeu a defender e a divulgar uma causa: o amor aos animais, lutando pelos seus direitos, porque, infelizmente, este é um mundo em que a maior parte das pessoas não sabe nada sobre o amor, o valor da vida e de todos os seres... E o mais importante foi a troca de amor entre a Ana e Gweny e todos aqueles a quem a Gweny cativou e tocou... Que importa se é gato ou pessoa...
Adorei ler esta história, embora tenha ficado com a lágrima ao canto do olho... é sempre um vazio enorme que nos fica quando um peludo se vai embora, porque eles entram pelo nosso coração adentro... Uma festinha etérea à Gweny...
também já conhecia a historia da Gweny, mas adorei ler mais uma vez esta homenagem linda que fizeste à tua gatinha. fica mesmo um vazio muito grande.... e têm sido tantos....
E ao reler a história o vazio ainda piora. É a doença que mais temo. E agora doi o Picasso, a Zuleika tudo com o mesmo. A malu... tantos todos sempre com o mesmo. Não o fiv a ins renal.
Belissima a tua Gweny ! e que linda homenagem...
Eu nem me lembro que a Tifanny é FIV !
Só espero um dia estar á altura de lhe prestar uma homenagem como esta!
Já conhecia a história da linda Gweny, mas esta homenagem fez-me chorar, Anica... é uma lição de vida, sem dúvida, tomara que muita gente a leia e aprenda qualquer coisinha...