Dezenas de gatos são atraídos diariamente à Rua de Augusto Simões pela comida que uma moradora lhes dá. A dois passos do centro da Maia
A dois passos do centro da Maia, nove famílias, com oito crianças, vivem numa ilha 'cercada' por dezenas de gatos. Todas as noites, assinalam os relógios as 21 horas, uma moradora abre alguma latas de alimentos para animais e os bichanos não se fazem rogados, invadindo todos os recantos da pequena ilha. Por não ser visível a quem passa na Rua de Augusto Simões, a porta com número 410 esconde um drama quotidiano. Por se tratar de propriedade privada, a Câmara da Maia diz que não pode actuar.
"É impossível. A senhora chega a casa cerca das três horas da tarde e os bichos começam logo a aparecer, pelos telhados. À noite é impressionante, pois parece que os animais sabem que é hora da refeição. São às dezenas. Grandes, pequenos, estropiados, cheios de mazelas. Além do barulho, deixam tudo cheio de excrementos", referiu Rosina Gomes, moradora.
A invasão dos bichanos deixa outras marcas desagradáveis e que constituem autênticos atentados à saúde pública.
"Não vai há muito tempo, uma gata entrou por um telhado e teve uma ninhada no sótão. Um ou mais gatitos morreram, porque não conseguiram sair e estiveram ali a apodrecer. Quem lá morava acabou por deixar a casa, pois já não aguentava esta situação", revelou outra moradora, que preferiu não se identificar.
Ao mau cheiro e aos dejectos juntam-se as moscas, "enormes", "que não nos largam", enfatiza Rosina Gomes.
"Passo a vida a limpar a porcaria dos gatos, mas sou reformada e não tenho dinheiro para andar a gastar em água e lixívia para limpar a porcaria dos outros. Tenho uma netinha com cinco anos, que passa vida doente por causa dos bichos . E, como se não bastasse, a senhora ainda tem em casa duas cadelas e não sei quantos gatos. Nem as janelas posso abrir", conta, revoltada, Rosina Gomes.
O problema tem vindo a piorar, pois quando uma gata tem uma ninhada "a senhora fica com eles", afiançam, ainda, os moradores. "Ela bem diz que vai ver se dá os bichos a alguém, mas quem é que vai querer tanto gato?", interroga-se Rosina Gomes, enquanto sacode mais uma mosca
O JN tentou, sem êxito, ouvir a moradora visada.
Câmara não pode entrar em propriedade privada
A Câmara Municipal da Maia desconhece o drama em que vivem as nove famílias na Rua de Augusto Simões mas sublinha que dificilmente poderá intervir. "Tratando-se de propriedade privada, a autarquia não pode actuar de sua livre iniciativa. Os moradores terão de queixar-se ao proprietário da ilha ou denunciar o caso na Delegação de Saúde", afirmou uma fonte do Gabinete de Comunicação da Câmara.
"Só se problemas ocorrerem na via pública"
A autarquia explica que "é fácil reclamar. Basta dirigirem-se ao atendimento aos munícipes, que posteriormente os encaminha para a Divisão do Ambiente. É preenchido um formulário muito simples e os serviços actuam depois. Mas só se os problemas ocorrerem na via pública, como é o caso de pessoas que deixam na rua comida para os animais", sublinhou a mesma fonte.
Reis Pinto Adelino Meireles
JN, 08/10/06
http://jn.sapo.pt/2006/10/07/porto/gatos_infernizam_vida_moradores_uma_.html
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