Artigo retirado de:
http://www.felinus.org/index.php?area=artigo&action=show&id=870
Autor:
Becas (Fernanda Ferreira) [ Europe/Lisbon ] 2006/03/26 21:03

Voluntários do canil do Seixal acarinham e passeiam animais abandonados

Abandonados pelos donos pelas mais variadas desculpas, os animais do canil municipal do Seixal têm uma equipa de voluntários que lhes dá carinho, os leva a passear e até os acalma com sessões terapêuticas de "reiki".

Considerado o maior do género no distrito de Setúbal, o canil, que também recebe gatos, ocupa precariamente um antigo matadouro e apesar das obras de a mpliação realizadas o ano passado, que permitiram a construção de mais celas par a cães e um parque de recreio ao ar livre, o recinto continua a ter carências.

O "abrigo" dos gatos, que se resume a um conjunto de oito gaiolas, foi improvisado num armazém (embora esteja previsto para Abril um outro espaço) e as celas interiores para os cães são húmidas e têm pouca luz (apesar de estar prom etido um sistema de ventilação e climatização adequado).

Semanalmente, apoiados por uma veterinária que presta aconselhamento mé dico gratuito, 12 voluntários, entre os 17 e os 60 anos, procuram dar um pouco mais de conforto a dezenas de bichos até serem adoptados por um novo dono. Pagam medicamentos e tratamentos em clínicas se for preciso.

"Duas a três vezes por semana passeamos os cães para fazerem exercício, apanharem sol, arejarem. O canil é húmido e as patinhas deles ganham feridas", relata a psicóloga Marta Correia, 28 anos, voluntária, que também limpa as gaiolas dos gatos e dá-lhes de comer.

"Damos amizade e carinho com o objectivo de melhorar a qualidade de vida, o bem-estar deles", acrescenta.

Marta cresceu sempre junto de animais e "sofre" quando se apercebe que os donos entregam os bichos "com desculpas estapafúrdias": desde o gato que faz "chichi" pelos cantos e provoca doenças até ao cão que não presta para a caça, c ome "cocó", larga pêlo, incomoda os vizinhos ou não tem sítio onde ficar porque os seus donos mudaram de casa, separaram-se ou foram para o estrangeiro.

"Os animais têm necessidades, são como um amigo, um elemento da família a quem é preciso dar atenção", frisa, apelando à "adopção responsável".

Voluntário há poucas semanas, Álvaro Gonçalves, 41 anos, foi uma vez ao canil para adoptar um cão, mas acabou por levar o gato "Puma". Rendido aos encantos dos bichos, prontificou-se a tratar deles todos os domingos. Hoje, todos os dias são domingo.

Faz de tudo um pouco: ajuda na limpeza dos locais onde os cães comem e dormem, leva-os a passear junto à baía do Seixal, dá-lhes os medicamentos quando adoecem ou põe-nos a tomar "banhos" de sol no pátio do canil para secarem o pêlo.

"Isto mexe um bocado connosco. Uma pessoa entra aqui e quer levá-los a todos", confessa Álvaro, salientando que ficou "mais sensível e permissivo" com os bichos, ao ponto de em casa não ralhar com o seu gato quando este salta para cima de sofás ou esconde-se debaixo dos lençóis da cama.

Nas mãos deste empregado de uma loja de livros e discos, os animais do canil ganham ainda mais um "mimo": sempre que os bichos deixam, ele dá-lhes umas "aulas" de "reiki" para mantê-los calmos.

Praticante desta arte milenar tibetana recuperada no Japão no século XIX e que consiste em canalizar energia vital pela imposição das mãos em pontos es tratégicos do corpo, Álvaro garante que o método resulta nos animais. Segundo diz, uma cadela que estava gelada "começou a aquecer" depois de fazer "reiki".

O canil tem 35 celas - seis das quais exteriores - que estão sempre lotadas porque só são eutanasiados cães muito doentes ou feridos, sem hipóteses de recuperação (o mesmo se passa com os gatos).

"Só quando é adoptado um cão é que metemos outro cá dentro", afirma Miguel Almeida, veterinário municipal, ressalvando que, mesmo quando é negado um pe dido de entrega de um animal aparentemente saudável, este é encaminhado para ado pção através de redes de contactos na Internet, campanhas ou anúncios de jornais .

Contudo, "acontece muito frequentemente termos de aceitar animais, mesm o com o canil cheio, quando os donos vêm à noite e os amarram ao portão da entra da", conta, reconhecendo no trabalho dos voluntários uma "ajuda preciosa".

Miguel Almeida sonha com o dia em que, reunidas as verbas necessárias, possa ver construído um espaço em condições para os cães e gatos abandonados, co m celas para recobro e sala de cirurgia para castração de gatas e cadelas, e uma "residencial" para acolher os bichos durante a ausência temporária dos donos.

Mas, enquanto esse dia não chega, o veterinário propõe-se colocar brevemente nas actuais instalações música ambiente para que os animais se sintam mais serenos.

Ao mostrar o canil, Marta Correia não esconde a tristeza quando apresen ta alguns dos seus "habitantes". A voluntária fica à beira de chorar quando faz festas ao "Meigo", um cão acastanhado, de olhar dócil, que ninguém quer.

Para a jovem, a adopção do cão seria mais uma "vitória", entre tantas o utras, para compensar a perda de um animal em tratamento que, apesar de ter rece bido carinho, não resistiu aos cuidados médicos.

Agência LUSA
2006-03-19 11:28:44

Fonte:
http://www.rtp.pt/index.php?article=229214&visual=16