Artigo retirado de: http://www.felinus.org/index.php?area=artigo&action=show&id=858 Autor: pipagata (Tité) [ Europe/Lisbon ] 2006/03/03 13:45 |
As desventuras de uma mãe de cão solteiro |
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Sou D. Oscar Maria, Visconde de Sant'Ana, mas o povo insiste em trata-me por Pipas Cão. Solteiro e filho único de mãe extremosa, embora já seja adulto, á semelhança dos humanos, é com ela que vivo e dela dependendo para tudo, inclusive para escolher a melhor hora e sitio para me confundir com o a plebe e satisfazer as minhas mais primárias necessidades. Dado que descobri recentemente, que na vizinhança, há uma donzela que entrou em período propício á constituição de família, assim que oiço a minha mãe falar em xixi, precipito-me pela escada a baixo e não há mau tempo que me demova. No passado fim de semana, o Criador resolveu compensar-nos, de uma só vez, pela seca dos últimos anos. Só pode ter sido por isso que choveu o dia todo... A certa altura, oiço minha mãe dizer: “Bem Pipinho (é assim que ela me trata sempre que me quer convencer a fazer alguma coisa), não vale a pena esperar mais, a chuva veio para ficar, por isso vamos lá vestir a gabardina”. Se bem o disse, melhor o fez. Vestiu o impermeável, e a mim enfiou-me aquela ridícula gabardina que me faz sentir um macaquinho de feira, sem desmerecimento para os macaquinhos. E lá fomos nós. Senhora mãe de saquinhos para o cócó no bolso, trela numa mão e garrafinha de água na outra, querendo ver-se livre de um dos dois sacrifícios que tem de fazer diariamente, passear-me. Serve a trela, para me travar os ímpetos, serve a garrafinha para “regar” as pedras da rua, que eu insisto em lamber desesperadamente, sempre que encontro um leve odor a xixi de cadela, altura em que perco completamente a compostura e esqueço até os objectivos que nos tiraram, a mim e a minha mãe, do recesso do lar. Eu, com a secreta esperança que vai ser desta que me encontro com a princesa que preenche os meus sonhos há dias. Dias? Dias e noites... Se julgam que o rigor da intempérie me apaga a chama da paixão pela desconhecida que vai ser a mãe dos meus filhos, enganam-se... Não estranhem que lhe chame desconhecida, em vez de Fifi, Maria ou Bolota, é que não a conheço, não sei como ela se chama, nem mesmo se é rafeira ou de linhagem. A avaliar pela quantidade de pequenos xixis que encontro, estou desconfiado que serão várias as candidatas na zona. Quem não acha graça nenhuma a este meu comportamento, pouco abonatório da minha higiene, é a minha mãe. - “Pipas! Queres ter a gentileza de parar com isso? Que coisa feia, não te esqueças que estás na rua para fazer xixi e cócó. Juro-te que vou lavar-te a boca com sabão.” E meninas??? Snif, sniff!! Então não há meninas? Nada! Nem vê-las! Até parece que as mães delas adivinham as horas a que vou sair e trancam-nas em casa, não vá o diabo tecê-las...Diacho, nem a hipótese de virem a ser avós de uns lindos netos as amacia... Caramba, com tanta conversa, até me desviei do assunto que aqui me trouxe. Pois é, por causa da minha obsessão em deixar descendência, este fim-de-semana vi a minha vidinha a andar para trás. Depois de mais de meia hora debaixo de chuva, gelados, encharcados até á alma, minha mãe explodiu: “Pipas, estou farta de fazer esta figura patética, chove a cântaros e eu de garrafa de água na mão e a molhar ainda mais a rua. Juro-te que se voltas a lamber a calçada não respondo por mim e levas uma aristocrática estalada nas ventas, vais ver como te passa, rapidamente, a vontade de ser pai!” Estava tão furiosa, a minha querida mãe, o tom era tão ameaçador, que me pareceu que o perigo era eminente e que ela estava a um passo de cumprir todas a ameaças. Apressei-me a despejar os meus depósitos, o de líquidos e o de sólidos e ala que se faz tarde, em direcção a casa. Com um olhar doce, prometi-lhe que não voltaria a lamber as pedrinhas da calçada e não tento mais saber, através do xixi, o nome e a morada das candidatas a mãe dos meus filhos. Só não lhe disse que esta promessa perde a validade no próximo passeio. |