Andava eu a ver fotos de cães para adopção quando me aparece a do Ursinho. Fiquei impressionada com o vazio do seu olhar.
Já tinha visitado um canil, mas por várias razões não consegui adoptar nenhum cão. Mas este tinha que ser meu. Resolvi ir buscá-lo.
Lá fomos, eu e familia, numa manhã fria de sábado.
À chegada fiquei preplexa com aquilo que encontrei. Não que as instalações fossem más, o problema é que estavam claramente superlotadas. Tanto cão, mas tanto, de todas as cores, tamanhos e raças e todos tão tristes e molhados e mal cheirosos e sujos de fezes e urina - horrivel.
Trouxe o meu Ursinho e saí de lá a correr para não trazer mais meia dúzia. A grande aventura foi a viagem de regresso:
A 160 km/hora na auto-estrada vidros abertos e a tremer de frio, o cheiro do Ursinho era simplesmente insuportável. O meu marido dizia:
- Se for apanhado, estou lixado...
E eu dizia:
- Com o cheiro que ele tem, até arranjam uns batedores para te abrir o caminho.
O meu filho dizia:
- O Ursinho tem uma história com um final feliz, mas eu estou cheio de frio.
E o pobre Ursinho aninhava-se aos meus pés sem saber muito bem o que lhe estava a acontecer.
Foi directo para a banheira, mas nada adiantava, o cheiro não saía. Foi à tosquia e o cheiro foi-se com o pêlo. Ficou muito giro.
É muito bricalhão e muito meiguinho, adora roer meias e chinelos, não me larga nem um minuto, anda sempre atrás de mim e tenho que levar a cama dele para o meu quarto à noite porque ele não me larga, e sempre que me mexo na cama ele pensa que é hora de brincar e toca a lamber as minhas mãos e a pular para cima de mim. É um amor de cão.
Só é pena que as pessoas que abandonam os cães não vejam as condições a que os bichos são votados após o abandono. É muito triste.
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