Local «foi visitado por todas as autoridades desde a Câmara, saúde pública e GNR mas ninguém fez nada», dizem vizinhos
Cinquenta cães debilitados, magros e sujos foram hoje retirados de uma vivenda em Ribeira de Pedrulhos, Torres Vedras, onde se encontravam abandonados há mais de seis meses com o conhecimento da Câmara municipal.
Os serviços camarários, que conheciam o problema desde Dezembro de 2004, altura em que foram alertados pelos vizinhos com queixas de barulho e maus cheiros provocados pelos cães, alegam que só hoje foi possível retirar os animais para o canil municipal por só agora terem tido autorização para entrar dentro da habitação.
Indignada com as condições em que os animais foram mantidos na casa, a presidente da Associação de Protecção dos Animais de Torres Vedras, Olinda Dias, disse hoje que «a Câmara sabia do que se estava a passar pelo menos há seis meses».
«Compreende-se que as pessoas que vivem aqui à volta vivam num inferno de barulho e mau cheiro, mas o que custa é que ninguém se preocupou com o bem-estar destes desgraçados», acrescentou Olinda Dias.
A dirigente da associação contou que após ter tido conhecimento do caso (terça-feira) foi ao local tendo-se deparado com uma situação em que «da parte de trás estavam vinte animais em canis sem comida e sem água, e estava uma cadela a parir e os outros a comerem-lhe os cachorros porque estavam esfomeados».
«Há muitos animais que vão chegar ao canil para lhes darmos banho e que estão em condições físicas muito más. Estão muito magros e vai ser quase impossível recuperá- los até porque o canil está superlotado», disse Olinda Dias, que em conjunto com outras voluntárias vai tratar dos cães.
A mesma responsável disse ainda que «existe uma lei que diz que as forças policiais são obrigadas a intervir quando há animais em risco e por isso não se compreende como é que a situação se arrastou durante tanto tempo. Há aqui animais que estiveram meses fechados numa garagem sem uma única janela ou luz».
Os vizinhos do número 20 da Rua Santa Mirinha em Ribeira de Pedrulhos afirmaram à Lusa que reclamaram junto da Câmara e que apesar de terem sido notificados dos procedimentos que estavam a ser seguidos o problema foi-se arrastando.
Um dos moradores, José Pereira disse que o local "foi visitado por todas as autoridades desde a Câmara, saúde pública e GNR mas ninguém fez nada".
De acordo com os ofícios que receberam da Câmara, a autarquia notificou em Fevereiro a proprietária da residência (que deixou de ali habitar) a, no prazo de um mês, a limpar o local retirar os animais.
A ordem acabaria por não ser cumprida e o caso passou para as mãos da GNR a quem competia encontrar a proprietária, mas a guarda também acabou por não a encontrar.
Questionado pela Lusa sobre o porquê de a Câmara não ter agido coercivamente, o veterinário municipal disse que não pôde intervir mais cedo por «não ter conseguido encontrar ninguém que abrisse a porta».
«Em três ou quatro meses já cá viemos cinco ou seis vezes mas não podíamos é invadir a propriedade privada. O que aconteceu hoje foi um acto de boa vontade do senhor (a única pessoa que uma vez por semana alimentava os animais) porque caso contrário só com mandado judicial», explicou.
O veterinário municipal afirmou ainda, após a primeira retirada de 30 cães para o canil, na manhã de hoje, que «alguns estão em bom estado enquanto outros estão num estado já depauperado e com muita sujidade».
Contactada pela Lusa, a delegada de saúde de Torres Vedras, Clara Garcia, explicou que emitiu um parecer conjunto com a autarquia em Fevereiro deste ano onde era ordenada a retirada de todos os canídeos do local e a limpeza do local por razões de saúde pública.
«Quando a pessoa notificada não cumpre a ordem o processo segue a via jurídica e aí é mais complicado resolver a situação», admitiu a delegada de saúde.
Fonte:
http://www.portugaldiario.iol.pt/noticia.php?id=565198&div_id=299
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