Esta é a altura do ano em que milhares de portugueses esfregam as mãos de contentes, pois aproximam-se uns merecidos dias de férias. Hotel marcado, malas aviadas, depósito do carro atestado, casa fechada a sete chaves. Está tudo pronto, a família pode seguir viagem. E o cão? E o gato? E o canário? Esta é aquela altura do ano em que, se pudessem, muitos animais domésticos iriam chorar baba e ranho, implorando aos donos para que não os abandonassem.
Há cerca de seis anos, a organização britânica RSPCA anunciou a existência de um milhão de animais abandonados em Portugal. Desconhece-se qual será a realidade actual, mas é certo e sabido que a chegada do Verão significa um aumento substancial de cães e gatos que são deitados fora. Ou os donos se esquecem de preparar as férias deles, ou não têm dinheiro para colocá-los num hotel ou, simplesmente, têm uma pedra no sítio do coração e não se importam de virar costas a um amigo e, não raro, mandá-lo directamente para Timbuktu (o "céu" dos cães, para o escritor Paul Auster).
Miguel Moutinho, director-executivo da Associação Animal, lembra que "o abandono é sempre cruel". No entanto, diz haver situações que revelam "detalhes de especial crueldade". E logo explica "Temos muitas denúncias de pessoas que iam na auto-estrada, nesta altura do ano, e, de repente, viam alguém do carro da frente abrir a porta e soltar um animal, que era imediatamente atropelado".
Também horripilantes são os casos em que os donos atiram os cães ou os gatos das pontes. "Dessa forma, asseguram-se de que os animais nunca mais voltam para casa", acrescenta. Outras situações há em que as pessoas vão de férias e deixam os animais fechados em casa, à fome e à sede. "Portugal é isto. É medieval em muitos sentidos", refere Miguel Moutinho, que deixa um conselho aos proprietários "Se não puderem ou não quiserem levar o animal convosco, devem procurar um hotel para animais que inspire confiança. Assim, podem ir de férias de uma maneira responsável".
Fernando Lopes, representante da Liga Portuguesa dos Direitos do Animal Autoria: no Algarve, dá outra ideia "No estrangeiro, é muito comum os vizinhos combinarem uns com os outros. Quando um vai de férias, o outro fica com os cães". No seu entender, as autarquias "deviam facilitar a vida aos donos dos animais", criando serviços de hospedagem, a preços convidativos.
"Há grandes dificuldades em que os animais nos acompanhem durante as férias", acrescenta aquele responsável, lamentando o facto de a maioria dos parques de campismo não aceitar cães. "No estrangeiro, entram em todo o lado. Até nos restaurantes e hotéis", conclui.
Autoria:
Isabel Peixoto
Jornal de Notícias, 28 de Junho |