Artigo retirado de:
http://www.felinus.org/index.php?area=artigo&action=show&id=59
Autor:
catw (Carla Mar) [ Europe/Lisbon ] 2003/10/14 22:21

Crónica do dia do Animal

Não me pronunciei sobre este assunto porque estava a aguardar, para fazê-lo com calma. Só que… esquece! Nunca tenho tenho para escrever como quero, por isso cá vai…

Foi a minha segunda presença num evento deste género, a primeira num dia do Animal. Sendo na Expo já imaginava que estaria cheio de gente, para mais estando presentes várias entidades oficiais de protecção aos animais.

Chegámos - eu e a Filipa - mesmo a tempo de evitar que a Ana enlouquecesse com as pessoas que queriam abrir as caixas para "ver" os gatinhos. Ordens da nossa “generala” para manter os olhos abertos, não deixar as pessoas abrir as transportadoras, e para darmos a informação respeitante a cada um dos “piquenos”.

Primeira alegria, alguém que procura um gatinho preto – e eu, a lembrar-me do meu Onyx, a minha pedra preciosa negra, poço de meiguice e ronrons, meu gatinho ternurento… “Ai, que exagero” - pensam vocês… Ah! Então venham cá a casa ver a minha doce pantera e vão ver! Gato de rua, ladrão de cozinha, sempre intrometido no lava-loiça – nada educado, ao contrário da Esperanza, que se comporta como uma senhora – mas… deliciosamente, meigo. A minha cunhada diz que sou eu que os estrago com mimos. Bah! Sabe lá ela… Mostrei um gatinho preto de laço azul ao pescoço, lindo… Gato ou gata? Gato. E lá foi para o chip.

Mais pessoas. O que têm? Estes. Mostro as boxes. Dessa cor não. Esse é muito grande. 4 meses, grande? Ah, queria um mesmo pequenino, aí com 1 mês. Com 1 mês?! Lembro-me da Noggy:”Daah!...” Mas com 1 mês ainda precisa da mãe. Com 1 mês não temos. Vêm mais? Se algum particular vier trazer, sim. E cores? Que cores? Ai meus deuses que esta gente pensa que está na prateleira do supermercado a escolher embalagens de lexivia… Sem cloro, com cloro, para o chão, para a roupa, para a roupa branca, com cor, de cores delicadas… Começo a entender a Ana, e lanço-lhe um olhar compreensivo - que ela não vê - porque está a explicar a alguém, quem é, e de onde vem um bichano, na esperança que ele vá para a sua nova casa.

Ouço um menino a dizer:”Mãe, quero um gatinho, mãe…” e a mãe, intransigente, respondia que não, que não, e o menino insistia a chorar:” ó Mãe…”. Mil vezes assim, pensei, a levar e depois despejar o indesejado numa associação, ou no meio da rua – sim, que os gatos, como já ouvi tantas vezes, e a tanta gente: ”Os gatos safam-se, os gatos sobrevivem, os gatos adaptam-se, os gatos defendem-se.” E os gatos, malandros - insensíveis a tantos argumentos - nem sempre se safam, nem sempre sobrevivem, nem sempre se adaptam, nem sempre se conseguem defender… Não resisti a dizer ao menino:” Sabes, um gatinho dura muitos anos, pode durar 20 anos. E tu tens de tomar conta dele esses anos todos. Por isso é melhor pensares bem, e pensares com a tua mamã se é boa ideia teres um gatinho. E mãe diz: “Pois o problema é esse, e ele não percebe isso”. E eu pensei de mim, para mim – “Ora aí está um problema que eu gostava de ter tido com os meus gatos, durarem 20 anos…”

Uns minutos depois, um casal nos seus 50 anos, que tinha 13 gatos, todos esterilizados/castrados, dizia-me: "Está ali uma tricolor na CML, que está por cima duma transportadora com um cão, ela é tão bonita... mas está ali meia escondida, não vai ser adoptada... Podiam trazê-la para aqui, que ali não se vê… Vá lá ver menina.”

E eu fui. Um piscar de olho à Filipa, que vou ali e já venho e depois de procurar – estava mesmo escondida, lá estava ela… Linda, linda, a fazer lembrar muito uma gatinha que o meu pai deu a uma colega de trabalho, e que pôs todos os outros a dizer :" Ah! Linda de facto! Se me trouxesses uma dessas..."

Alguém também já tinha reparado na beleza daquela gata, e pouco depois de eu ter voltado, vejo-a a ela, dentro da transportadora e ao pé dos "nossos". Esteve 15 minutos em exposição, não mais. Passou uma senhora, alta, elegante, olhou para ela com olhos de ver. Perguntou, informou-se, a gatinha tinha sido esterilizada na terça feira antes, a costura ainda visível, e a tomar antibiótico. Acho que era a Ana que estava a explicar, era tanta gente e os meus olhos estavam centrados em tantas coisas que não guardei memória visual de quem era, mas tenho uma vaga ideia da t-shirt amarela... sim, acho que era a Ana.

Depois o gatinho tigrado, uma Espy de pelo curto, lindo para fazer companhia a outro que já havia em casa da rapariga. E o Sião que pôs a Noggy a chorar de alegria.E aquela gatinha que estava há 6 anos no gatil…6 anos, alguém imagina o que são 6 anos sem receber um afago antes de adormecer enroscado aos pés do dono?

Não sei quantos foram dados enquanto lá estive, mas foram alguns. E se há alguma coisa que me deixa feliz é vê-los ter uma oportunidade de ter uma familia, alguém que os ama, aprecia, acaricia, mima, abraça… Alguém que ficará encantado com os ronrons, a barriga a pedir festas quando se chega a casa, o peso aos pés da cama quando se adormece, e um pouco menos encantado com o focinho curioso que de manhã nos empurra da cama porque quer comida. Foi bom, muito bom, obrigada por me terem deixado participar.