Artigo retirado de:
http://www.felinus.org/index.php?area=artigo&action=show&id=574
Autor:
Filipa Bastos (Filipa Bastos) [ Europe/Lisbon ] 2005/02/20 19:18

Em memória da Marta…


... um pedido de responsabilidade aos donos de animais


Lê primeiro a história da Marta: Marta, Martinha, a gatinha com tinha



Autor: Filipa Bastos
Há uma semana, em casa dos donos

Não foi há muito tempo que a Marta foi motivo de um artigo neste site. Na altura contámos as peripécias da sua vida: que morava debaixo de um carro abandonado, que estava grávida e com tinha, e como para resolver uma situação que calculámos fosse mais tarde difícil de solucionar, optámos por esterilizá-la quanto antes, mesmo sendo uma operação arriscada, já que o parto estava previsto para daí a poucos dias.

Visitas diárias à clinica onde recuperou da cirurgia criaram entre ela e quem a visitava uma ligação muito forte, enriquecida pela extrema meiguice que aquela gata, de pêlo negro e luzidio, nos brindava a todo o momento. Esteve algumas semanas numa casa minha, onde diariamente lhe dava o tratamento para a tinha e onde brincámos bastante (e se a Marta gostava de brincar...). Nunca me esquecerei da satisfação dela ao sair de casa e roçar-se no chão do quintal, expondo a barriguinha côr de rosa, ainda sem pêlo, derivada da cirurgia da esterilização. De como nos seguia para todo o lado, enroscando-se nas nossas pernas; de como troteava como um corcel quando a chamávamos; de como me pregou um susto quando se escapuliu por entre as grades para o terreno do vizinho. A alegria foi imensa quando a sua adopção foi formalizada, sem sequer ter havido necessidade de colocar anúncios.


Autor: Filipa Bastos
Meiga e ronronenta

A semana passada fui visitá-la. Confirmei o que já me tinham dito: que conquistara o homem da casa, em cujo colo ela se deitava todas as noites depois do jantar; como estava alegre e brincalhona como sempre, como permanecera meiga e como sabia lidar pacientemente com crianças que, como sabemos, muitas vezes acabam por magoar na sua ânsia de fazer festas. Em tudo aquela gata era fenomenal. Estava mais gordinha, mas em forma. Um único senão: a Marta gostava da rua e o casal que a adoptara não lhe negava o acesso, apesar dos inúmeros sermões da filha. Ela pulava por entre quintais, visitava as casas dos vizinhos, tinha encontros amorosos (embora platónicos) com um namorado felino algures nas redondezas. Durante a minha visita reforcei os perigos dessas escapadelas, mas fiquei convencida que era uma situação controlada, até porque a Marta era acarinhada pela vizinhança.

Recebi hoje de manhã a pior notícia possível. A Marta foi atropelada, e já nada podia ser feito por ela. Não pude (e não posso) deixar de verter lágrimas por uma gata linda, espantosa em todos os sentidos e que tinha tudo para ser feliz e viver uma vida longa e saudável. Tudo, menos a atenção necessária para evitar este tipo de acidentes. Os donos adoravam-na, toda a família a adorava, os vizinhos acarinhavam-na e eu, embora recentemente sem grande contacto com ela, tinha-a no meu coração e pensava várias vezes nela.


Autor: Filipa Bastos
Um ser excepcional...


Este texto é uma homenagem a esse ser que iluminou durante estes meses as nossas vidas, mas também um pedido muito sério a todos os donos de animais (gatos ou cães), que permitem que eles saiam à rua desacompanhados. Os acidentes não ocorrem só com os outros, um dia batem também à nossa porta.

Não posso concordar com quem defende que “os animais são para estar na rua, são seres livres e por isso devem ter a liberdade para andarem por onde quiserem”. É preciso não esquecer que na altura em que os animais, agora por nós domesticados, andavam em liberdade, as cidades não eram o que são hoje. Tão pouco existiam automóveis, máquinas úteis ao conforto mas também à preguiça do Homem, com cada vez mais potência, cada vez mais transgredindo as regras de limites de velocidade e um código feito pelo Homem para evitar acidentes com o próprio Homem. Domesticámos os animais mas mudámos-lhe o seu ambiente, tornando-o uma armadilha a cada esquina. A Marta, esta manhã, não deu conta dessa armadilha.

Adoptar um animal é responsabilizarmo-nos pelo seu bem estar, saúde e segurança para toda a vida. Por vezes, se não temos condições para lhes proporcionar uma semi-liberdade (um quintal vedado, por exemplo), isso implica mantê-los dentro de casa. Com raríssimas excepções, os animais adaptam-se, e não são menos felizes por isso.

Muitos desgostos podem ser evitados se mais pessoas se convencerem que o mundo citadino actual não permite que os nossos animais disfrutem de uma liberdade total. Essa chamada liberdade é, num maior número de vezes do que gostaríamos de pensar, mortal.


À Marta, o meu amor e as minhas saudades.