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Autor:
Filipa Bastos (Filipa Bastos) [ Europe/Lisbon ] 2005/02/19 17:33

Estudo inovador sobre toxocarose animal


Dejectos animais provocam doenças

O Instituto de Higiene e Medicina Tropical da Universidade Nova de Lisboa e a Câmara Municipal do Seixal vão realizar no nosso Concelho um estudo sobre a toxocarose animal e a larva migrans visceral humana, infecções que decorrem, por exemplo, do contacto directo com dejectos de animais nos espaços públicos ou alimentos mal lavados.

Os dejectos de animais nos espaços públicos são uma fonte de transmissão da toxocarose


Alcione Trinca, docente do Instituto de Higiene e Medicina Tropical, explicou que doença é esta, como se transmite e qual é o objectivo do estudo, o primeiro no País a integrar as três vertentes: animal, espaços públicos e homem.

Seixal – Boletim Municipal (SBM) – O que é a toxocarose animal?
Alcione Trinca (AT) – Toxocarose é uma zoonose, isto é, uma doença animal que passa para o homem, causada por um parasita encontrado frequentemente no intestino de cães (Toxocara canis) e gatos (T. cati).


SBM – Qual é a relação entre a toxocarose animal e a larva migrans visceral humana?
AT – Após a ingestão dos ovos dos parasitas Toxocara canis ou T. cati pelo cão ou pelo gato, as larvas são libertadas e crescem até à fase de vermes adultos no intestino. Cerca de 40 dias após a contaminação, milhares de ovos começam a ser eliminados juntamente com as fezes.

O homem contamina-se ao ingerir acidentalmente os ovos destes parasitas através das mãos sujas, alimentos mal lavados, inalação de poeiras, brincadeiras na relva ou areia frequentadas por cães ou gatos, etc. No homem, como as larvas não se desenvolvem até à fase de verme adulto, migram por todos os órgãos, dando origem ao síndrome de Larva Migrans Visceral (LMV).

O parasita é o mesmo, a diferença é que, no animal, desenvolve-se até à fase de verme adulto e, no homem, apenas até à fase larvar.

SBM – Acha que as pessoas, em geral, têm noção dos perigos de transmissão de doenças que resultam dos dejectos caninos deixados nos jardins e na via pública?
AT – Sinceramente, acho que não. Basta andar por qualquer rua, jardim ou até mesmo na praia, para encontrar dejectos dos cães por todos os lados. Então, se houvesse consciência do perigo que representa para a saúde pública, sobretudo para as crianças, a transmissão da larva migrans visceral e de outras parasitoses graves, através das fezes dos cães, não continuariam a contaminar os jardins, praias, ruas etc., pois estão a pôr em causa o bem-estar de todos.


SBM – Qual é o objectivo do estudo que o Instituto de Higiene e Medicina Tropical e a Câmara Municipal do Seixal estão a realizar no nosso Concelho?
AT – Este trabalho será efectuado em duas fases. Na primeira, os objectivos serão avaliar a prevalência dos parasitas intestinais nos cães do Concelho do Seixal, a fim de efectuar os respectivos tratamentos e avaliar a contaminação por ovos de Toxocara sp. nos jardins e outros espaços públicos e avaliar o seu risco para a Saúde Pública.

Na segunda fase, o objectivo será o conhecimento da prevalência da Larva Migrans Visceral na população em idade escolar no Concelho do Seixal.


SBM – Já foram efectuados estudos deste género noutros locais do País?
AT – Um trabalho integrado como este, procurando estudar a doença nas três vertentes – animal, espaços públicos e homem, ainda não foi efectuado. Por isso, este será o primeiro estudo, daí a sua importância.


SBM – Quando e como é que esse estudo vai ser desenvolvido?
AT – Podemos dizer que já foram dados os primeiros passos para a implementação deste projecto no terreno, com a realização de várias reuniões com todos os intervenientes (Câmara Municipal, Juntas de Freguesia e Instituto de Higiene e Medicina Tropical). O trabalho de laboratório será iniciado tão rápido quanto possível.


SBM – De que forma pode este estudo contribuir para que, no Concelho do Seixal, as pessoas comecem a ter mais cuidados quando levam os seus animais à rua e aos jardins?
AT – Esperamos que com a divulgação dos resultados obtidos nesta primeira fase e uma forte campanha de sensibilização possam levar as pessoas a ter uma maior consciência e contribuírem para o bem-estar de todos nós.



em Boletim Municipal do Seixal