Artigo retirado de:
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Autor:
Becas (Fernanda Ferreira) [ Europe/Lisbon ] 2004/12/06 19:12

Modelos Despem-se em Defesa dos Animais

Cinco defensores dos direitos dos animais, três deles envergando t-shirts da associação ANIMAL, promotora da iniciativa, e duas manequins, protagonizaram ontem de manhã, à porta do El Corte Inglés, em Lisboa, um protesto contra a venda de peles.

Com o anúncio de que as duas manequins se iriam despir, para demonstrar que preferem andar nuas a vestir peles de animais, foram muitos os jornalistas que se juntaram à porta da grande superfície e os curiosos, na sua maioria homens, também marcaram presença.

À hora marcada, 12h00, surgiram Miguel Moutinho e Álvaro Braga Júnior, membros da direcção da ANIMAL, com mais três elementos da associação, que se apressaram a montar três cartazes de protesto contra o comércio de peles. Um, a clássica foto de um ursinho que pergunta "A tua mãe usa casaco de peles?" e diz "À minha mãe arrancaram-no", o segundo com a pergunta "Peles?", explicando que "todos os casacos de peles representam animais torturados e mortos por estrangulamento, electrocução, afogamento ou asfixia com gás". Este cartaz terminava com o apelo "Evolua: não use casacos de peles, recuse a moda manchada de sangue" e um voto de parabéns às lojas "Zara, Mango, Massimo Dutti, Stradivarius, Bershka e Pull&Bear" que irão deixar de comercializar "casacos de peles finas e peles com pelos" a partir de 2005.

Já o terceiro cartaz, repleto de fotografias chocantes de animais mortos, apelava um boicote ao El Corte Inglés, "pela responsabilidade neste horror".

O vice-presidente da ANIMAL, Álvaro Braga Júnior, explicou aos jornalistas que nada move a associação contra a grande superfície espanhola e que a iniciativa não era um ataque ao Corte Inglés, que considerou "uma loja de referência", mas que a acção era, em geral, contra todas as lojas que comercializam peças de vestuário feitas com peles de animais, deixando mesmo no ar a possibilidade de que outras acções deste género venham a ter lugar à porta de mais estabelecimentos comerciais de Lisboa.

O grande momento da manhã viveu-se mesmo, durante cerca de cinco minutos, quando as anunciadas manequins, pintadas de vermelho e envergando casacos de pele de leopardo e de raposa, surgiram frente aos fotógrafos e, sob o olhar vigilante da polícia, se despiram integralmente para de seguida pisarem e pintarem com sprays vermelhos as peles lançadas para o chão. O momento foi aplaudido por populares, enquanto duas senhoras idosas, na confusão por engano, deixaram bem claro o seu protesto contra "as porcas que vêm para aqui despir-se".

Entre os espectadores, dividiam-se as opiniões. Uns aplaudiam, uma senhora fez mesmo questão de discursar para uma câmara de televisão, anunciando o seu amor aos animais e em especial aos dois câes que tem em casa, enquanto outros não estavam muito convencidos. "Se comem coelhos e vacas porque é que não se usam peles?", perguntava um popular, que depois de desabafar que era "tudo uma fantochada" se enfiou para dentro do Corte Inglés.

Mas no meio dos curiosos, havia de tudo, mesmo os que tinham ido ali só para assistir ao espectáculo da desnudação das manequins. Dois amigos, já de alguma idade, comentavam o facto com alguma frustação. Enquanto um deixava sair o desabafo, pouco elegante, de "f..., ainda se as gajas fossem boas", o outro consolava-o: "Deixa lá, vamos beber um café". Enquanto isso, um jovem mais animado ia comentando: "Já que não há dinheiro para ir ao strip, ao menos divertimo-nos aqui".

Mas se para uns não passou de um momento diferente, para os defensores dos bichos e para a ANIMAL, em particular, a questão é séria. Os casacos de pele estragados pelas manequins, de acordo com Miguel Moutinho, foram doados e serão enviados para "os pobres no Afeganistão, que precisam de agasalho". E a luta contra o comércio de peles de animais irá continuar. Noutro dia e em outro sítio.



Jornal Público, de 5 de Dezembro de 2004