Artigo retirado de:
http://www.felinus.org/index.php?area=artigo&action=show&id=351
Autor:
Filipa Bastos (Filipa Bastos) [ Europe/Lisbon ] 2004/11/26 15:07

Marta, Martinha, a gatinha com tinha


A Marta ainda de barriga, na praceta onde morava

Cirandava eu por outro fórum de gatos, a Arca de Noé, quando me deparei com um pedido de ajuda sobre uma gata preta grávida, em Santa Marta de Corroios, com as indicações precisas do local onde a gata se encontrava. Percebi que só podia ser a gata de que a Filipa já me tinha falado, já que é em Santa Marta que mora. Resolvemos então ir procurá-la as duas no dia seguir. Não foi dificil dar com um abrigo debaixo dum carro abandonado. Aquela era a casinha da Marta.

Chamámos, e a gatinha apareceu logo, o pelo preto brilhante, com uma ligeira falha no focinho e uma barriga lustrosa. O parto parecia para muito breve. Apesar do apelo pedir alguém para tomar conta da gata e dos gatinhos que nascessem, reparámos no problema de tinha e tomámos logo ali a decisão de tentar esterilizá-la. Por várias vezes nesse dia liguei para uma associação sem sucesso. Uma das vezes tive sorte e a pessoa atendeu-me. Mostrou-se disponível, e sim, podiamos levar a gatinha para esterilizar. Fomos buscar uma transportadora, e seguimos com ela para a clinica.

Na clínica, após a cirurgia
A doutora quando a viu franziu logo o sobrolho:"Ela está com tinha, e gatinha e bébés com tinha... Vamos já hoje esterilizá-la".

A esterilização da Marta, apesar dos nosso receios, correu bem. Fomos visitá-la todos os dias dessa semana, e ela derretia-se sempre com os mimos. Foi-nos dito que não éramos as únicas visitas da Marta, o que não estranhámos, pois ela tornou-se de certa forma a mascote daquela praceta. Uma das vezes encontrámos uma moça acompanhada pela mãe. Costumavam dar-lhe comida e tinham visto o papel que a Filipa deixou no carro que lhe serviu de abrigo, a avisar que iamos levar a gatinha. Levavam latinhas para a Marta. Trocámos contactos para as manter a par da saúde da Martinha. A moça até alvitrou que os pais poderiam ficar com ela, mas o pai (homens, sempre os maus da fita!) embirrou que não e a Martinha lá continuou sem dono.

Depois da esterilização era preciso arranjar uma casa para ela ficar, mas o tenebroso monstro TINHA afastava as pessoas. Será que ninguém sabe que o vulgar "pé de atleta" é uma tinha? A Filipa, na altura com a Kira doente, e eu com o Sunny como pendura, não tinhamos muitas opções. E na clínica continuava o Beauty, outra das nossas “aventuras”, a quem tinhamos também de arranjar um lar. Várias vezes eu e a Filipa nos entreolhámos: as duas de baixa, a receber metade do ordenado e ainda a metermo-nos em despesas e preocupações, quando deviamos era estar em casa a olhar para o tecto, a convalescer das nossas maleitas.

2 meses depois, o check-up na clínica

Chegados ao fim dos 7 dias de recuperação da esterilização, ninguém se mostrou disponível para ficar com ela, ainda para mais com a tinha, à qual ela tinha de fazer tratamento durante bastante tempo, e nem eu nem a Filipa a queriamos colocar de novo na rua. Foi a Filipa a que salvou a situação, resolvendo que a hipótese melhor era fechá-la na casa que tem em contrução. Estava fechada mas pelo menos protegida quer de pessoas maldosas, quer dos cães que, soubemos depois, já lhe tinham atiçado mais do que uma vez.

Resolvemos só colocar anúncios para arranjar um dono para a Marta quando ela estivesse boa da doença de pele, pois achámos que ninguém ia querer ficar com ela enquanto estivesse doente. Se nem para tomar conta dela e a tratar aparece alguém, quanto mais um dono, foi o que pensámos.

Ao colo da filha dos novos donos
O tempo foi passando e todos os dias a Martinha tomava o seu comprimido da tinha, e recebia um monte de festas em cada visita, além de ocasionais sessões de paticure e muita, muita brincadeira. Bastava olharmos para ela que começava a fazer um ronron descomunal e a roçar-se nas nossas pernas. A Marta tinha fome, sim, mas era uma fome de ternura e de contacto humano. Por várias vezes, as turras aos nossos braços quando lhe colocávamos comida quase derramaram as taças.

Um dia, já sem esperarmos, a Filipa recebeu um telefonema. Era uma das visitas da Martinha na clínica, uma rapariga que morava na praceta, a mesma que lhe tinha construido o abrigo. Disse que afinal os pais estavam na disposição de ficar com a Marta, o pai tinha reconsiderado, e que não importava o tratamento da tinha, eles acabavam o tratamento.

E assim foi. A Martinha é agora o "ai Jesus" da casa, vive ao colo dos donos, só quer mimos, é extremamente meiga, e claro que cativou até o homem da casa, o mais renitente na sua adopção. Entretanto a Marta já voltou ao veterinário, à mesma clinica onde foi esterilizada, para verificar a evolução da tinha e fazer os seus testes de FIV e FeLV, que deram negativos.

Neste caso pode mesmo acrescentar-se: "E viveram felizes para sempre..."




Autoria: Carla Martins e Filipa Bastos