Artigo retirado de:
http://www.felinus.org/index.php?area=artigo&action=show&id=268
Autor:
Paloma (Alexandra Carvalho) [ Europe/Lisbon ] 2004/07/01 13:34

Felinos (e não só): a exposição solar e o carcinoma espino-celular

Todos sabemos que os felinos gostam de se deliciar ao sol, aproveitando os seus passeios ao exterior ou procurando os raios de sol que entram pelas janelas quando estão em casa. No entanto, importa que todos estejamos conscientes dos riscos associados à exposição solar de alguns dos nossos adorados animais.

Sem qualquer intuito alarmista nem pretensão científica, pretende-se, de seguida, com base em alguma pesquisa bibliográfica e experiência pessoal, alertar e consciencializar os “donos” de animais com pele despigmentada para o perigo real do desenvolvimento de carcinoma espino-celular devido à exposição solar.




O carcinoma espino-celular é um tumor cutâneo que se desenvolve, sobretudo, nas zonas de pele despigmentada (branca/rosada) e com pouco pêlo que sofrem maior exposição aos raios solares, ou seja, no nariz, nas orelhas, nas pálpebras, nos lábios e, com menor incidência, nos dedos dos felinos. Não se pense, portanto, que este tipo de carcinoma afecta apenas os gatos brancos, pois qualquer animal, independentemente da sua coloração de pêlo, poderá correr riscos se tiver a pele despigmentada (branca) nas zonas do corpo já indicadas.




carcinoma espino-celular
carcinoma espino-celular: evolução




A excessiva exposição destas zonas de pele despigmentada aos raios solares ultravioleta provoca uma alteração celular originando uma lesão na pele que resulta, frequentemente, num tumor quase sempre maligno (carcinoma).










Embora não tenha tendência a a criar metástases que afectem outros órgãos do animal, o carcinoma espino-celular é um tumor muito agressivo pela rapidez com que pode invadir o tecido cutâneo. Por isso, a detecção precoce de quaisquer lesões na pele é fundamental para um tratamento bem sucedido.





carcinoma nasal

A intervenção cirúrgica para remover a pele afectada é uma das formas de combater a progressão do carcinoma. Logo, quanto mais precoce for a detecção do carcinoma, maior será a margem de segurança conseguida com a intervenção cirúrgica e maiores serão as probabilidades de o tumor não voltar a aparecer nesse local (recidivar).

Por outro lado, apesar de a cirurgia de remoção dos tecidos afectados ser o método preferencial, não será viável nos casos avançados de carcinoma, sobretudo quando este se situa no nariz. Haverá, nestes casos, métodos alternativos como a radioterapia e a crioterapia (congelamento da neoplasia), mas o ideal será que não se chegue a uma situação limite, sem terapêutica possível.







Romeu após cirurgia
Ilustra-se com o exemplo concreto da autora deste artigo, cujo gato, Romeu, desenvolveu um carcinoma espino-celular nas orelhas como resultado de 8 anos de exposição solar. Apesar de todos os cremes de protecção solar que os “donos” lhe aplicaram nas orelhas, as consequências de excesso de sol acabaram por se manifestar.

Tudo começou com uma pequena ferida, aparentemente inofensiva na ponta das orelhas, que não despertou alarme imediato, pois logo se pensou tratar-se de um arranhão provocado por outro gato. Contudo, a dita ferida (com apenas alguns milímetros) não sarava totalmente, pois repetia-se um ciclo permanente de queda e reaparecimento de uma pequena crosta. Desconfiando do que se tratava, a “dona” levou o Romeu à veterinária que, após cuidada observação, aconselhou vivamente a operação para remover a lesão das orelhas. O Romeu foi operado e o resultado da biópsia às orelhas confirmou o diagnóstico: carcinoma espino-celular. Depois de um pós-operatório doloroso para felino e humanos, o Romeu recuperou e é um gatinho feliz mesmo sem as suas orelhinhas. Nunca mais lhe foi permitido expor-se ao sol, embora ele tente sempre que pode.

Porém, os efeitos do sol fazem-se sentir a longo prazo e há cerca de dois meses surgiram mais duas feridas, mais uma vez de aspecto inofensivo: uma no nariz (zona muito problemática, mesmo tratando-se de uma lesão inicial) e outra numa pálpebra. Neste momento o Romeu está em observação, mas a verdade é que as feridas não saram totalmente...
























 

Por mais que nos encantemos ao ver os nossos gatos (e cães também) felizes ao sol, as consequências desse prazer felino podem ser nefastas e cabe-nos a nós, “donos” responsáveis zelar de forma consciente pela sua saúde e bem estar. A forma mais eficaz de prevenção é evitar que os animais com maior propensão para desenvolver problemas de pele se exponham ao sol e levar os gatos mais idosos a um controle médico de 6 em 6 meses. Que este alerta possa contribuir para que menos pessoas venham a dizer um dia “Se eu soubesse...”.



Autoria: Alexandra Carvalho (Paloma)



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