Artigo retirado de:
http://www.felinus.org/index.php?area=artigo&action=show&id=230
Autor:
pipagata (Tité) [ Europe/Lisbon ] 2004/05/24 09:45

História de um cão abandonado


Olá,

Sou o Frick, tenho quase nove anos e peso cerca de 35 quilos.
Sou um cão rafeiro, sem família, mas com alguma sorte.


Autor: Filipa B.

Ainda bébé fui oferecido a uma senhora que não tinha condições para me criar, nem formação que lhe permitisse perceber que um animal de estimação não é um brinquedo. Fui crescendo, na rua, com a ajuda dos vizinhos. Porém, a certa altura (já lá vão uns bons anos), a minha "dona" mudou de casa e de cidade e, como se eu não existisse, deixou-me sózinho.

Hoje, vivo na mesma rua, sou acarinhado por algumas pessoas e enxotado por outras. Nem todos são maus neste mundo, e eu tenho algumas amigas. Uma é dona de uma tasquinha e serve-me as refeições. Outra põe na porta da rua uma taça com água e dá-me todos os dias algumas bolachas. Há ainda uma terceira a quem dedico um carinho especial. Sei que o meu carinho por ela é retribuído e que só não me adopta porque já tem um cão, que também estava abandonado como eu.

É ela que às vezes me livra de alguns sarilhos em que me meto e que, quando chega o calor, contrata os serviços de uma empresa que me vem
Autor: Filipa B.
buscar e me trás de volta, depois duma bela banhoca - já me ameaçou que este ano também vou levar uma tosquiadela. Arranjou-me uma cama e deixa-me dormir na escada. De vez em quando dá-me uns comprimidos que, diz ela, são desparasitantes e despeja no meu cachaço uma bisnaguinha com um cheiro desagradável (buffffff) mas que faz com que as pulgas fujam de mim a sete patas.

No ano passado estive doente, com uma otite e por tanto coçar, acabei por fazer um oto-hematoma. Não sabem o que é? Eu explico, é uma bolsa de sangue na orelha. Fui, paciente e tranquilamente, com a minha amiga especial a uma clínica, para ser operado. Foi estranho, quando acordei estava um bocadinho estonteado e com um penso na orelha. Senti-me um bocado ridículo, parecia que tinha na cabeça um chapéu de toureiro. Nos dias seguintes, acompanhei a minha amiga à clínica, para mudar o penso. Ela deu ordem ao médico para que me deixasse sair logo que estivesse tratado, porque eu, que sou um cão inteligente, saberia voltar para a minha rua e assim evitaria que eu ficasse fechado numa caixa, até que ela me fosse buscar.

Descobri que algumas pessoas da minha rua contribuíram com dinheiro para ajudar a pagar as minhas despesas na clínica. Enfim, sei que, embora não tenha uma dona definida, tenho muita gente que gosta de mim.

Todos os dias acompanho a minha amiga até perto do emprego dela e depois volto para a minha rua. Vou passando os meus dias ladrando aos mais mal encarados que por lá passam e, confesso, às vezes até consigo assustá-los.

Quero aqui deixar o meu agradecimento a todos os que me protegem e dizer aos meus companheiros que ainda não encontraram um dono que não desesperem, pois ainda há muita gente boa.