Esta crónica se assim a podemos chamar foi introduzida por mim no 1º Felinus. Portanto as datas e os anos não se encontram actualizados, no entanto não quero fazer nenhuma alteração ao que vos apresentei na altura.
Como não consigo deixar que memória da Sasha se apague, quero que se relembrem alguns e a conheçam outros ...
Olá a todos os amantes de felinos, tal como eu.
Chego até vós desta forma, para me apresentar e principalmente para partilhar convosco a história da minha Sasha. O meu nome é Carla Machado, 29 anos, vivo em Rio de Mouro ( perto de Sintra ), sou casada com o Paulo, temos uma filhota Joana que irá completar 2 anos em 5 de Abril. E como filhote mais novo tenho o Aiko com 8 meses. E sou bancária de profissão.
Desde que me conheço como gente sempre tive animais de estimação, cães, gatos, periquitos, tudo o que pudesse adoptar e os meus pais deixassem, nunca me puseram grandes entraves até porque temos uma quinta em Tomar, e aqueles que não pudesse ter em casa estavam na quinta.
Por tudo isto, quando casei e fui para a nossa casinha, tive uma necessidade imensa de adoptar um animal e a minha preferência foi logo para um gato, a minha paixão por estes espíritos iluminados sempre sobressaiu de entre o meu amor por todos os outros animais. Inicialmente foi mais difícil convencer o Paulo, ele nunca tinha tido um gato e surgem sempre aquelas ideias, crenças populares, os gatos são falsos, não conhecem o dono , etc … balelas !
Um certo dia cheguei ao banco e uma colega sabendo da minha paixão, disse-me: “Carla, na rua onde moro há uma gata que teve uma ninhada, e como não têm dono o mais certo é que morram todos …” OK … tudo parecia vir de encontro a mim, cheguei a casa e … “Paulo, sabes, hoje a Elsa disse-me (…)” o que respondeu : “ Sim, de certeza que me vais vencer pelo cansaço! Por isso tudo bem, ficamos com um …”
Bem até parecia que nunca tinha tido um animal, hoje a Joana faz-me lembrar eu nessa semana, quando tem um brinquedo novo. Os dias pareciam não passar, eu queria ir buscar o gato o mais depressa possível, fui logo comprar o “enxoval”, foi wc, foi comedouros, cama, comida para gatinhos, brinquedos, eu sei lá !
Um dia saí do banco já bastante tarde, o Paulo foi buscar-me, já eram quase 23h30, toca o meu telemóvel, era a Elsa: “ Carla começaram a desaparecer gatinhos, queres vir buscar o teu?” Bem, cortámos logo caminho em direcção a Odivelas. Chegámos lá e o mais difícil, qual é que eu quero? É claro queria todos, eram tão lindos, tão bebés (ainda não tinham completado 1 mês), mas uma vez que o Paulo tinha acedido tão prontamente, disse-lhe: “Escolhe tu …” E foi ele que viu qual era o mais pequenino da ninhada e escolheu.
Pequenina, tigrada cinzenta com castanho, pequenas manchinhas pretas na barriguita castanha… amei-o desde o 1º min. Estávamos a 1 de Julho de 1999, a 19 dias do meu aniversário … que PRENDA !!!!Nesse fim de semana fomos ao Vet, fiz-me sócia da U. Z., e a Dra. Cláudia diz-me é uma menina! Tudo bem, o Paulo preferia um macho, e eu contentíssima, tenho uma menina !!!!O Paulo com o passar dos dias cada vez mais gostava dela, e assim foi, a nossa 1ª filha!
A Sasha era uma gata extremamente meiga, sociável, adorava ir à rua, foi connosco para tudo o que era sítio, nem que fosse só um fim de semana.
Entretanto fiquei grávida, e ela soube-o primeiro que eu. A Sasha por norma ficava sempre a meu lado quando eu estava sentada, mas a partir de certo momento só queria estar deitada em cima da minha barriga.
A partir do momento que a minha gravidez foi pública, havia umas tantas pessoas que diziam: “ E agora ? Vais ter de dar a gata, com um bebé em casa é muito perigoso !!!”
E eu: “ Sim ? O que é que tem? Sempre tive animais de estimação, sempre andei com eles na rua, na terra quando estava na quinta e cá estou eu, só lhe vai fazer bem, cresce com animais, aprende a respeitá-los e tem uma melhor amiga em casa, além disso a Sasha é a minha filha mais velha, o bebé será o mais novo ! “ Mas infelizmente, nem toda a gente pensa como eu ( nós que temos gatos ), mas desliguei.
Tudo corria maravilhosamente até …
Estava a completar ano e meio de vida quando de um momento para o outro começou a emagrecer muito, bebia cada vez mais água, começou a fazer chichi fora da wc. Fomos ao Vet., e uma vez que na UZ não tinham os aparelhos necessários para fazer os exames que eram precisos, a Dra. Cláudia pediu-me para ir ao Hospital Veterinário da Estefânia ( tinha aberto há 1 semana). Depois das análises feitas, foi detectada uma grave insuficiência renal, e anemia …
O que é que está a acontecer? Como é possível, a Sasha tem ano e meio, sempre vigiada, vacinas em dia, nunca teve o mais indício de doença durante este tempo. Meu Deus, eu não conseguia abrir a boca, o Dr Luís falava, mas parecia que eu não ouvia, as lágrimas corriam pela cara abaixo, não percebia nada … Tem cura? O que é que eu faço? Estou grávida de 7 meses, é algo que pode ser transmissível a mim, à Joana? ( Eu sou imune à toxoplasmose, à partida não havia problema de nada, mas …)
A Sasha só olhava para mim com aqueles olhos grandões dela, tristíssima por me ver chorar, ela falava comigo …
Engoli as lágrimas e disse: “ Gaste o que for preciso, não me interessa o dinheiro, quero a minha gata como era, mas fica combinado desde já; não há experiências com a minha menina, quando ela estiver em sofrimento acabem com ele, prometam !”
Como devem compreender o dinheiro fazia mesmo falta, a Joana estava para nascer … mas para mim nesse momento não queria saber !
Estávamos a 24 de Janeiro de 2000, uma 4ª feira …
Na altura trabalhava na Av Duque de Loulé, bem pertinho do Hospital, quando cheguei ao Banco já eram 15h, não consegui trabalhar como devem compreender.
Durante alguns dias a minha vida era ir ao Hospital. antes de ir para o Banco, à hora do almoço subia a Avenida ia ao Hospital, saía do banco ia ao Hospital. Nunca chorei tanto na minha vida, os vários veterinários já estavam quase mais preocupados comigo. Gravidíssima como estava …
Tudo estava contra a Sasha … estava muito fraca … levei-lhe o patinho de peluche que tanto adorava … estava ligada ao soro, não se levantava, não queria comer, tentava eu dar-lhe a comida à boca … e chorava … foi detectada uma calcificação gravíssima nos ossos … ninguém percebia … o caso dela já estava na Faculdade Medicina Veterinária. O que me diziam sempre era: “ Se fosse um gato idoso, percebia-se, mas assim …” Sim, e eu com isso? Eu quero a minha menina, boa, feliz, saltitona, brincalhona como era…
No sábado 27, telefonaram-me à 1 hora da manhã, vi o número do Hospital e não consegui atender, dei o telemóvel ao Paulo, e pensei … já morreu … mas não, fora feito novo Raio X, nova ecografia, e encontraram um tumor na pata direita ( naquilo que é o nosso ombro ), mesmo que fosse benigno, ela não aguentava a operação, se fosse maligno estaria a sofrer até morrer…
Perguntei tantas vezes a Deus, o que é que ela fez? O que é que eu fiz? Não há nada a favor da minha menina porquê?
Demos autorização para uma biópsia, e dissemos que no Domingo estaríamos lá outra vez. Ninguém queria que eu fosse, mas isso nunca ! Eu tenho que me despedir da Sasha ! Não me façam isso!
A biópsia deu tumor maligno … já não havia nada a fazer … esse tumor foi a causa da insuficiência renal, da anemia, do emagrecimento, por aí … MALDITO SEJAS ! E foi quando fiz algo que ninguém pensava que eu fizesse … Se a doença é rara, se a Faculdade também já está a par deste caso … então … fiquem com o corpo da Sasha, estudem e … ajudem outros animais . Vocês ficam com o corpo, mas comigo ficará sempre o seu espírito, e as nossas lembranças do tempo curtíssimo que pude estar com ela .
Nunca me vou esquecer das palavras do Dr Nuno, quando lhe agradeci tudo o que fizeram para a salvar: “ É fácil para nós sermos bons médicos, quando temos bons donos como a Carla …” Mas não atenuou a minha dor, sei que fiz tudo o que estava ao meu alcance, mas não chegou.
O dia 28 de Janeiro, ficou marcado para sempre, nunca nos vamos esquecer dos últimos segundos em que chorámos os dois agarrados à Sasha. Pedi-lhe para se portar bem quando lá chegasse lá acima e que esperasse por nós. As fotos dela continuam espalhadas pela casa … a Joana quando olha para elas diz que é a “tata”, e no dia 28 de Janeiro há uma vela acesa toda a noite junto das fotos …
Adeus Sasha nunca te esqueceremos, de todos os meus amiguinhos de 4 patas foste a mais especial … continuo a pensar em ti .. continuo à espera que me venhas receber à porta … continuo a ouvir a tua bola de guizo … continuo a sentir o teu cheiro quando pego no teu patinho …
Autor: Carla Machado | | A última foto. |
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