Artigo retirado de:
http://www.felinus.org/index.php?area=artigo&action=show&id=2
Autor:
Mastah (Paulo Azevedo) [ Europe/Lisbon ] 2003/08/05 20:31

Adoptar um Gato Adulto

Infelizmente, são muitos os gatos adultos que esperam ansiosamente por uma nova oportunidade de sentir que pertencem a um Lar.

Todos sabemos que o abandono é um flagelo ao qual campanhas de sensibilização e os alertas não conseguem colocar um fim. Por motivos diversos e incompreensíveis, donos irresponsáveis e que sem dúvida nunca foram capazes de realmente amar o seu animal de estimação (afinal, se sentissem algum amor, ainda que pouco, certamente nunca cometeriam o acto ignóbil de o abandonar), descartam-se com enorme facilidade do seu gato (ou cão), afastando-se alguns quilómetros de casa, abrindo a porta do carro e dizendo até nunca. E por incrível que lhe possa parecer, muitas vezes vão de seguida tirar férias, descansados e sem o mínimo remorso ou peso na consciência.

Não se lembram que deixaram entregue à sua (má) sorte, um ser vivo, e que por ter sido um animal de casa, tem muito menos possibilidades de se defender dos inúmeros perigos que a vida na rua representa, do que aqueles que nasceram na rua e nunca tiveram um lar.

Há também abandonos que resultam de motivos de força maior (a morte do dono, o seu internamento por doença grave….) que são muito mais raros e que não representam percentagem significativa do problema.

Por vezes estes gatos têm uma sorte (relativa) e são recolhidos por amigos dos animais, voluntários ou não de associações protectoras, que os recuperam, tratam quando doentes e se esforçam desesperadamente por lhes encontrar um lar.

Por vezes são entregues nas associações protectoras dos animais abandonados, mas esta solução não pode deixar de ser provisória: não é justo para o animal que o resto da sua vida se passe fechado dentro de um espaço limitado.

É particularmente doloroso ver animais que tiveram um lar, que foram habituados a ter alimentação e abrigo, ficarem privados eternamente, muitas vezes até à morte, do conforto (físico e psicológico) a que foram habituados.

Muitas pessoas não adoptam um gato adulto porque têm alguns receios, ou até mesmo porque a falta de informação as leva a considerar que não têm condições para o fazer. São alguns desses medos e preconceitos que procuramos debater aqui.


  • O gato adulto não é meigo:

  • É muito frequente as pessoas associarem a ideia de um gato adulto, com alguma agressividade e distância; nada mais falso; um gato abandonado que tenha sido recolhido e acarinhado, em regra, é extremamente dócil e carente; o gato sofre com o abandono; precisa de voltar a ter atenções e festas de uma mão amiga; se adoptar um gato adulto, vai certamente receber o amor incondicional do seu novo amigo; pode acontecer que o gato, se foi sujeito a grande violência, ou se permaneceu muito tempo fechado num gatil, se torne mais assustado e se isole; no entanto, são vários os relatos de situações destas em que, com dose reforçada de mimos e atenção, se consegue conquistar o coração do novo amiguinho, demonstrando-lhe que ele está seguro e que nem todos dos humanos são maus; mas sublinha-se que quase todos os gatos adultos que se colocam para adopção, são extremamente meigos.


  • O gato pode estar cheio de doenças contagiosas:

  • É verdade que quando são abandonados, os gatos ficam sujeitos a contrair doenças, contagiosas ou não. No entanto, os gatos recolhidos abandonados são tratados, desparasitados e quase sempre têm os testes do Fiv e Felv efectuados. O contágio destes vírus, só ocorre entre gatos e não existe qualquer perigo para os humanos, razão pela qual, por si só, não deve ser um impedimento para que o gato não seja adoptado (por exemplo, se não tiver mais nenhum gato ou por uma pessoa que tenha gatos com o mesmo vírus).
    Assim, se está interessado em adoptar um gato adulto, não deixe que o medo da eventual existência de doenças contagiosas o impeça. Fale com a pessoa que trata e cuida do animal em questão e informe-se sobre a sua saúde.

    O risco é muito reduzido. E como verificará, são muitos os animais que já têm os testes efectuados.



  • O gato adulto não me vai reconhecer como novo dono:

  • Ao contrário do que muita gente pensa, o gato, tal como o cão, reconhece o dono; numa casa com um agregado familiar mais ou menos numeroso, ele vai sempre identificar algum como o dono da sua eleição. Tendencialmente, a pessoa que lhe dá mais atenção, que o trata e o mima.

    Isso acontece independentemente da idade do animal, seja bebé ou adulto. Quando entrar no seu novo lar, ele vai ter que procurar uma referência humana. Por isso não tem que se preocupar com esta possibilidade: o seu animal vai amá-lo sem condições.


  • O gato adulto vai marcar o território:

  • Com frequência os gatos adultos que são colocados para adopção já foram castrados ou esterilizados, ou pelos voluntários que os recolheram, ou pelas associações de protecção. Esta medida permite que os animais deixem de marcar o território e evita que se reproduzam. A marcação do território está fortemente associada aos períodos e cio, que se eliminam com esta intervenção cirúrgica.

    Se por acaso adoptar um gato adulto que não esteja esterilizado/castrado, pense seriamente nesta possibilidade, por um conjunto diversificado de factores que qualquer bom veterinário não deixará de lhe explicar. Se optar por um gato bebé, não se esqueça que vai correr o mesmo risco da marcação territorial, quando ele crescer, que pode, como viu, eliminar



  • Tenho mais gatos e vão andar à bulha:

  • A introdução de um novo gato, seja o segundo, o terceiro ou o enésimo, tem que ser feita de forma gradual. Os gatos gostam de pensar que são seres superiores e que os seus domínios se estendem até onde o seu olhar pode alcançar. Mas a verdade é que adoram a companhia de outros animais da mesma espécie, com quem possam brincar e comunicar (já se imaginou a viver uma vida inteira com seres que não falassem a mesma língua?). A reacção inicial à chegada de um novo animal, salvo algumas excepções, é sempre de grande tensão. O(s) gato(s) da casa vai sentir ciúme e por isso, recomenda-se que nos primeiros dias os gatos não fiquem juntos sozinhos. Deve tentar a aproximação, quando estiver presente, para controlar eventuais ânimos mais exaltados. No espaço de 1 ou 2 semanas e por vezes até em menos tempo, a aproximação vai ocorrer e quase sempre os animais acabam por se tornar grandes amigos.

    Uma reacção mais negativa pelo facto de o novo elemento ser adulto e não bebé, pode acontecer, mas não é linear. Inclusive, há casos em que gatos adultos foram mais bem aceites, mas isso varia de gato para gato. Uma coisa é certa, mais dia, menos dia, a regra é que possa contar com uma família feliz. E se só tem um gato, lembre-se que é muito importante para ele ter a companhia de “um igual”.


  • Tenho medo que o gato fuja por não conhecer a nova casa:

  • Naturalmente que o novo gato vai ter uma reacção inicial de estranheza, face a um ambiente que é totalmente novo. O perigo de que ele fuja se encontrar uma porta ou janela aberta é real, mas o mesmo perigo existe também para um gatinho bebé.

    Um dono responsável é aquele que toma as devidas precauções em matéria de segurança, para garantir que o seu animal não vá para a rua.

    Mesmo com todas as cautelas, por vezes acontecem alguns imprevistos e por isso, é fortemente recomendado que coloque um chip de identificação no seu animal de estimação, que lhe permitirá maior tranquilidade em caso de o seu gato se perder. A colocação do chip é feita no veterinário, é relativamente barata e praticamente indolor (é colocada com recurso a uma seringa, como se tratasse de uma vacina). Também é conveniente não esquecer o tradicional método de identificação: uma coleirinha (sem guizo, que deixa o seu gato completamente maluco) com chapa e telefone.

    Quando o novo gato chegar a casa, por favor tenha particular atenção às portas e janelas, e caso tenha jardim, nas primeiras 4 ou 5 semanas, pelo menos, não permita que ele vá passear lá fora, por muito convincentes que sejam alguns miados lamentosos (os gatos são espertos e sabem utilizar as diferentes vocalizações que podem fazer, para convencer o dono a fazer o que ele (gato) quer). Nada substitui a segurança do lar e o gato vai acabar por se habituar à nova casa muito mais rapidamente do que espera.


  • O gato bebé ensina-se mais facilmente do que o adulto:

  • Os gatos aprendem o que lhes interessa e fazem-no em qualquer idade; ele vai aprender um novo nome, a higiene é algo de natural, que não precisa de aprendizagem. As palavras interessantes como “hora da comidinha”, “peixinho”, “bola de brincar”, “toma”, “hora da caminha”, parecem mágicas para os nossos gatinhos (sobretudo se eles não estiverem a meio de um sono profundo que, como sabemos, é sagrado). Por isso, tudo aquilo que pode ensinar a um gatinho bebé, pode também ensinar a um gato adulto, sem que a dificuldade seja acrescida.


  • Tenho uma criança e por isso é mais seguro um gato bebé:

  • Um gato bebé assusta-se mais facilmente do que um gato adulto e por isso mesmo, é mais imprevisível. Quer para o gato, quer para a criança, a relação pode ser mais problemática. As crianças têm tendência para apertar tudo o que mexe, e não têm noção da dor que isso causa (o que também acontece com gatinhos bebés, que não sabem medir a força nas suas brincadeiras).

    Por isso é mais frequente que ocorram pequenos acidentes domésticos com gatos bebés, do que adultos, que evidentemente podem e devem ser controlados pela companhia dos adultos e a aprendizagem na forma de relacionamento.


  • Tenho um cão e é difícil um gato adulto habituar-se:

  • Alguns gatos adultos, pela sua vivência, não suportam cães. Alguns cães, pelos mesmos motivos, não suportam gatos. Mas são muito frequentes relações de amizade ou de indiferença entre estas duas espécies.

    Se o seu cão não odeia gatos, há muitos gatos adultos que sempre conviveram com cães e que não constituirão qualquer problema. Por isso, trata-se apenas de perguntar a quem tem o gato a seu cuidado, como é que ele reage aos cães.


  • Gosto mais dos animais quando são pequeninos:

  • Se realmente pensa assim, talvez não seja oportuno adoptar um animal. Não se esqueça que todos os animais crescem. Deixam de ter a gracinha de bebés, para passarem a ter o encanto da maioridade.

    Muitos dos animais abandonados que vemos nas nossas cidades, estão na rua porque cresceram, cumprindo a lei natural da vida. As pessoas que os tinham não se lembraram desse “pequeno” pormenor quando os adquiriram (gratuitamente ou não).

    Claro que tal não significa que se condenem todas as pessoas que gostam de animais pequeninos, mas apenas aquelas para quem eles só existem durante esse estádio e se limitam a descartar deles quando crescem.

    É normal que se goste de um animal bebé, porque tudo neles é encantador. É preciso é que ao olhar para o bebé, se consiga imaginar o adulto, e se diga em consciência: este é mesmo o amigo que vai partilhar a vida toda comigo.






    Para além de tudo o que já foi esclarecido, julga-se ainda alertar para algumas vantagens que se encontram associadas a um gato adulto:

  • são animais com o seu temperamento formado; quando leva um gato adulto, sabe que ele tem aquele temperamento que lhe for descrito; no caso dos gatinhos bebés, ainda é uma incógnita, e pode levar um doce de gatinho, ou um pequeno terrorista; um grande comunicador, ou um filósofo circunspecto;


  • são mais calmos e pachorrentos, e portanto uma opção que deve ser fortemente ponderada por quem não tem muito tempo para brincar com um gatinho bebé, que exige muito mais atenção e disponibilidade por parte do dono;


  • frequentemente, encontram-se já castrados e esterilizados, o que não deixa de constituir menos uma preocupação para o novo dono.






  • Por tudo o que acaba de ler, se ama os animais, se para si, mais importante do que assistir às gracinhas dos bebés, é encontrar um amigo que retribua o amor que tem para lhe dar, então será um excelente dono para qualquer um dos gatos adultos que esperam, por vezes meses e até anos, que alguém volte a olhar para eles como seres vivos, dignos de respeito e merecedores também eles, do conforto de um lar e carinho de um dono amigo.

    Veja os animais que estão na base de dados e ponha de lado preconceitos. Agora que algumas das questões que se lhe colocavam tiveram uma resposta, vá em frente. Escolha o gato do seu coração.



    Lembre-se que o sucesso de uma adopção, quer de um gato bebé, quer de um gato adulto, residem, sobretudo, no amor e carinho que vai dedicar ao seu novo amigo. Ele vai retribuir como melhor sabe: turrinhas, ronrons, e uns olhos lindos, sempre inquietos e inquisidores, que lhe vão dizer o quanto ele lhe agradece por lhe ter dado a oportunidade de partilhar o seu mundo.

    (nota: por lapso, por vezes refere-se neste texto que o ser humano é o dono do gato. A correcção impõe-se: é o gato que todos os dias, serena e discretamente, se torna dono do coração do humano que o acolheu)


    Autor: Adélia Costa

    Folheto para Impressão:
    Capa Miolo