Artigo retirado de:
http://www.felinus.org/index.php?area=artigo&action=show&id=132
Autor:
Inner_Silence (Leonor Calaça) [ Europe/Lisbon ] 2004/02/29 15:26

Sobre brinquedos (e os brinquedos do Squish)

Para se ser um bom pai (ou mãe), é preciso obedecer a alguns requisitos importantes, a fim de fazermos os filhotes felizes: comidinha boa (tanto em termos nutritivos como em sabor), miminhos e brincadeira, saber ouvir, saber disciplinar (com cuidado, pois então), saber educar e saber dar e escolher brinquedos.

Pois bem, eu tento ser uma boa mamã para os miaufas que o destino me deu: dou-lhes comidinha saudável, que eles gostem (se bem que confesso que, por vezes, lhes dê mais do que eles precisam... mas não resisto àqueles “brrruuus” que eles fazem...); brinco com eles, dou-lhes atenção (gostava de poder dar mais); disciplino-os quando tem de ser (sobretudo quando insistem em praticar desportos radicais, ou quando andam à pancada um com o outro); e dou-lhes brinquedos.

É acerca dos brinquedos que vos quero falar aqui hoje, mais concretamente, de brinquedos para gatos: coisas para agarrar, perseguir, morder...

Quando soube que ia ser “mamã”, resolvi ter tudo preparado para a chegada do puto: comprei areia, caixa, cama, comida... nada se me apresentou como problemático, até ter chegado à zona dos brinquedos. Parecia um burro a olhar para um palácio. Melhor ainda: um burro que sempre tinha vivido só com cabanas ao pé e que pela primeira vez via um palácio!

Autor: Leonor
O Squish em cima da cama da vóvó, com a palmilha...
Pus-me a olhar para os objectos que a loja oferecia. Eu nunca tinha tido um gato na vida e os que havia conhecido até então eram de rua, por isso nada sabia acerca dos hábitos “brinquedíticos” dos mesmos. Cores variadas, pesos e formatos que nunca mais acabavam, com luzinha, sem luzinha, com guizo, com erva, com... Socorro!!!

Bem, resolvi-me por um peixe numa cana. Pareceu-me algo interactivo, pelo menos era eu que tinha que brincar com ele (porque claro, como futura psicóloga, me pus logo a pensar na boa vinculação entre mãe e filho, coisa e tal). Também lhe levei algo para ele se entreter sozinho, umas bolinhas com chocalho e umas bolinhas saltitonas. Estava toda contente com a minha escolha, eheheh!

Quando o pirralho chegou a casa pela primeira vez, mostrei-lhe os brinquedos. Loucura total! Era pancada nas bolinhas, correria louca atrás das ditas, era saltinhos malucos atrás do peixe na cana...
E o tempo foi passando.

Claro que, como todas as crianças, os brinquedos que de início haviam parecido tão pitorescos eram agora, para aquela mente evoluída, algo do passado. Até parecia que o via a fazer “Pfff” de desprezo ao meu peixinho, e à minha pessoa, que brandia o bicho de um lado para o outro da cana à espera de ver alguma reacção de interesse por parte do rapazote (que nesta altura teria uns 3 mesitos, mas andava armado em gente grande).

Entretanto, o Squish foi-se tornando criativo, e arranjou uns brinquedos novos inventados por ele. Pois claro, não poderia pedir a ajuda da mãe, que a mente dela já não via as potencialidades escondidas por detrás dos objectos do quotidiano... Velha, pah!
Primeiro foram os guardanapos, que ele rebaptizou como “aquilo que é giro e se mexe e se desfaz nas minhas garras”. Era divertido, ele entrava no seu iglô (que sua excelência não usava como cama, mas sim como creche), sinal de que queria paródia, esperava pelos guardanapos a passar rente à entrada e... ZÁS! Era unhada sem dó nem piedade, no brinquedo, na mão que segurava o brinquedo, na creche... No fim, sobrava para a mamã limpar um monte de tiras de papel, outrora reconhecíveis, espalhados pelo quarto todo. Mamã suspirava... e limpava, pois claro, sob o olhar atento do gato em questão.

Autor: Leonor
No tapete da vóvó...
Depois veio a fase dos sacos de plástico. Sacos de compras era com ele. Eu tinha (e tenho) o hábito de dobrar os sacos em forma de triângulo, para melhor aprovisionamento. Sua excelência felídea rebaptizou-os de “coisa gira que desliza quando atiram e quando eu lhe meto a pata”. Era ele a olhar para mim a dobrar o saco, sempre à espera, em posição de perseguição... “Acaba lá de arranjar isso e atira-me, para eu brincar!” A brincadeira acabava quando o saco se abria. Acabava com aquele saco em questão, porque sua alteza ia logo buscar mais para desarrumar. Mãe suspirava...

Bem, depois houve uma fase relativamente normal. O Squish nunca perdeu o gosto pelos ratinhos minúsculos (cujo preço não se equiparam, de todo, ao tamanho dos ditos), cada vez que lhos comprava era uma loucura nesta casa. Como se diz, era o Texas...
O meu problema com os ratinhos era que, de tão pequenos que são, a brincadeira acabava cedo, porque estes enfiavam-se debaixo dos móveis a uma rapidez impressionante, capaz de pôr os cabelos em pé até do mais abastado pai “duas patas”... Sempre que eu descobria um ratinho debaixo de um móvel era uma loucura de novo, a euforia, a felicidade! Durava pouco tempo, para se perder de novo em algum recanto obscuro. Nem os brancos sobreviviam mais, porque se metiam em locais tão escuros e recônditos onde a cor não lhes valia de mesmo nada. Menos umas patacas no meu bolso, mais uma coisinha a acumular pó algures... Sim, adivinharam: mãe suspira!

Depois veio a puberdade. Com isso, claro que outros brinquedos se lhe foram afigurando como mais atractivos. O meu urso de peluche Alfredo foi rebaptizado de “coisinha algo peluda que eu gosto de acariciar e amassar... ronrom!” Eu, por teimosia, continuo a referir-me a ele como Alfredo, sem admitir a minha derrota... Acho que não preciso de ser muito gráfica para percebermos todos quais as brincadeiras que o gato gosta de fazer com o Alfredo (e ainda hoje, depois de ter sido castrado!)... Ehem. Adiante.

Autor: Leonor
Armado em gentleman, para vermos bem, sua excelência e o objecto do seu deleite... na casa da vóvó, pois claro!
Há relativamente pouco tempo, surgiu uma nova moda aqui em casa, da qual nem me dei conta de imediato. A criança (que já não o é muito, mas as mamãs acham sempre que sim) fascinou-se por uma coisa que nem eu, quando teria a idade dele, me lembraria do seu potencial “brinquedítico” – coisas elípticas!

Eu explico melhor: o Squish tem a paranóia (e acreditem que não uso a palavra sem parcimónia) por objectos que tenham forma de meia lua, fica doente se não lhe chega e toca, mia, range os dentes, empoleira-se, faz de tudo para ter o objecto dos seus desejos (menos arrancar olhos).

Dei-me conta disso uma bela tarde, tinha eu acabado de, orgulhosamente, adquirir umas palmilhas novas para as minhas botas, e preparava-me para as cortar, debaixo do olhar de lince do meu tigre tamanho doméstico. As palmilhas eram de gel e, como todas as que compro, o tamanho era demasiado para mim. Levantei a tesoura e pus-me a cortá-las, pelas indicações do fabricante, de modo a que me servissem. Nisto, vejo as pupilas do Squish a dilatarem até preencherem o olho todo, na mesma proporção em que as palmilhas decresciam de tamanho. Assim que um bocado saiu... ZÁS! Lá foi o bocado de meia lua para o chão, empurrado por uma pata, e foi o êxtase da criança por uma boa hora.

Esta sua fixação acabou por se alargar a tudo o que for elíptico. O Squish mia de encanto se eu abro uma tesoura, se corto o rebordo do queijo flamengo, se... bem, o que imaginarem com este formato, é a alegria do gato. A coisa chegou ao ponto de ele choramingar em cima da minha cama, em Faro, para eu lhe alcançar uma lua que tinha colado no tecto (daquelas que brilham no escuro... adivinhem o formato... eheheh)! A coisa só abrandou quando o peguei ao colo e o elevei até ao tecto, para ele a poder tocar e tentar tirar, o que, evidentemente, não conseguiu. Desta vez, mãe não suspirou, fartou-se foi de rir!
Hoje em dia, já não me pede para lhe dar a lua que tenho no tecto, mas ainda a olha com olhinhos de namoradeiro desesperado... Deve ter esperanças que a gravidade a faça cair um dia...

Pois é, como dizem os pais, o que será que ele vai inventar mais agora? Que ninguém lhe tire as meia-luas... A minha mãe ainda guarda as palmilhas que entretanto deixámos de usar, para deleite do peludinho, quando vai à casa da vóvó! Como podem comprovar pelas fotos...