A Micas era uma gatinha preta insignificante. Pequenina, com névoas nos olhos e uma orelha rachada.
Veio para minha casa no dia 25 de Maio de 2007, após a OVH, para fazer o PO. Veio com o irmão ou filho (nunca apurámos), também ele preto.
Ambos tinham sido muito maltratados pela vida de rua e ambos tinham já a sua idadezinha: ela cerca de 8 e ele à volta de 5. O seu estado era caótico e, talvez por isso, ambos os PO's não foram fáceis. O demasiado tempo que estiveram comigo para se tratarem, ligou-nos muito e decidi ficar com ambos.
As suas mazelas foram passando e tornaram-se uns gatos apresentáveis. Ele enorme e calminho, ela pequenina e muito meiga.
A Micas (assim chamada em homenagem a uma outra Micas de uma amiga), tornou-se a minha companheira inseparável. Onde eu estivesse, estava a Micas. Sempre serena, sentada ou deitada muito perto do local onde eu estivesse. Era gulosa e comilona. Por isso, na cozinha, além de companheira, tentava sempre ajudar nas provas da comida. Parecia um passarinho saltitante. Era muito enérgica e irrequieta.
Há pouco tempo a Micas adoeceu. Tinha uma ulcera na língua e deixou de comer. Emagreceu, mas continuou activa e bem disposta. Fez tratamento e recomeçou a comer bem, como sempre. No entanto não engordava nada. Fez análises. Tinha anemia. A saga começou. Desde o dia 20 de Abril não parou de fazer tratamentos, análises, testes, RX, ecografias. O sacrifício de sempre para mim e para ela.
Melhorou muito. Tudo estava no bom caminho. Na quinta feira, dia 8 de Maio deixou de comer de novo. No sábado, dia 10 voltou-lhe o apetite. Domingo continuou a comer bem... e no mesmo domingo, meia hora depois de lhe estar a dar comida, deixei-a na cozinha e fui tratar de outros. Quando voltei estava deitada quase inerte em cima da bancada.
Fiquei muda! agarrei nela assustada e tentei pô-la no chão. Andou cambaleante e foi vomitar a comida toda. Deitei-a numa caminha aquecida e já não saiu de lá! Esteve sempre serena e foi-se apagando aos poucos...
A Micas morreu às 2,45 do dia 12 de Maio de 2008. Tinha anemia hemolítica. Não esperou pelo dia 25 para fazer um ano de existência nesta casa, mas para mim era como sempre cá tivesse vivido.
Nos últimos dias o meu coração foi fustigado por desgostos sucessivos. Embora duas gatinhas não fossem minhas, eu tinha lutado por elas e a dor foi grande.
Hoje, a partida da minha Micas, deixou-me sem noção de nada...senti revolta, raiva, impotência e no meio de todos os sentimentos não encontrei a dimensão da minha dor...
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