Artigo retirado de:
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Autor:
Becas (Fernanda Ferreira) [ Europe/Lisbon ] 2008/01/13 19:07

Bombeiros de Albergaria treinam cães para acudirem a vítimas de desastres e desaparecimentos



“Onde está Íris? Onde está?”

Texto de Pedro José Barros

Autor: Aveiro.pt
Goofy e Pipas podiam ser nomes de duas personagens de animação, mas neste caso, designam os dois cães da Unidade Canina Busca e Salvamento (UCBS) dos Bombeiros Voluntários de Albergaria-a-Velha que, na manhã de Domingo, iniciaram mais um treino de detecção de vítimas em sinistro. A UCBS é a única a operar em regime de voluntariado, de forma organizada, em todo o país.

Estávamos em Fermelã (Estarreja), num cenário pouco habitual para os sete cães da UCBS, que são acompanhados por outros tantos guias. Pela frente, um grande desafio: confiar no faro canino para encontrar vítimas encurraladas no meio de um ‘pântano’ de pedregulhos, numa simulação de derrocada.

Normalmente a formação acontece em cenários como fábricas desactivadas, pelo que o desafio desta vez era "agressivo e complicado", reconheceu Paulo Bandeira, chefe da Unidade.

Goofy e Pipas deram o mote. Ainda em iniciação, os dois benjamins do grupo começam a dar os primeiros passos nestas andanças. Porém, percorreram o ‘pavimento’ traiçoeiro com tenacidade, antevendo-se reforços de peso para os cães já preparados para intervir.

Próxima chamada, a Mini. Mais avançada na preparação, a Mini chegou desenvolta à vítima, marcando-a, mas pediu ajuda ao guia. Tem ainda de se deixar para trás "alguns medos", explicava Paulo Bandeira.

Ganhar confiança

A Íris já é quase uma profissional da busca, faltando-lhe apenas dar "algumas provas" para se tornar operacional. "Onde está Íris? Onde está?", incitava o guia. Felizmente, uma ventania repentina trouxe as coordenadas correctas e fez com que Íris encontrasse num esfregar de olho a sua vítima, ladrando em sinal de vitória.

Como explica Paulo Bandeira, o segredo para ganhar a confiança de um cão, nestas condições, é treiná-lo para reagir em função de uma recompensa. "Inicialmente precisamos de incutir no cão que ele quer brincar com um brinquedo. A partir daí, começamos a meter o brinquedo escondido com a pessoa, à vista do cão. Depois vamos dificultando gradualmente, até que ele percebe que para encontrar o brinquedo tem de encontrar a pessoa".

A socialização desenvolvida pelos guias junto dos animais é crucial. Há sensivelmente quatro anos e meio que a UCBS existe e, desde então, os treinos têm decorrido regularmente em horário pós-laboral e fins-de-semana. Mas "todos os dias" os guias socializam um pouco com o seu cão. "É a pessoa que o cão respeita e de quem é dependente, a quem sabe que tem de agradar", concretiza Paulo Bandeira.

Desaparecidos com Alzheimer

A Unidade Canina tem sido frequentemente solicitada para intervir, "quase sempre" devido a pessoas desaparecidas vítimas de Alzheimer. A última das quais aconteceu em Oliveira de Azeméis e a vítima ainda não apareceu.

Syra, Kika e Kiara encerraram a sessão de treinos com mais algumas buscas. Por pertencerem já ao nível operacional, o grau de dificuldade do exercício aumenta. Além de mais soterradas, as vítimas são cobertas com um plástico que dificulta a visão e origina mesmo patadas involuntárias nos voluntários, fruto de saltos ao acaso inocentes. O final foi sempre feliz e com palmas à mistura.

Dadores de sangue

O final da manhã ficou marcado por outro episódio recorrente na vida destes sete cães, com a Sira a efectuar uma dádiva de sangue. Desde 2003, ano em que a clínica veterinária VetAmigo abriu ao público, que se tem estreitado uma colaboração com os bombeiros. A clínia oferece vacinas e consultas gratuitas, além de descontos em meios de diagnóstico, e em troca os bombeiros disponibilizam os cães para serem dadores de sangue para outros animais em risco.

Gastroentrites, hemorragias, atropelamentos ou envenenamentos, são diversas as ocasiões em que os animais precisam de um apoio sanguíneo. No máximo duas vezes por ano, os sete cães da Unidade Canina Busca e Salvamento podem dar sangue a outros animais. Todos já o fizeram.

ed. 827, 10 de Janeiro de 2008




Aveiro.pt, notícia de 10 de Janeiro de 2008