Artigo retirado de: http://www.felinus.org/index.php?area=artigo&action=show&id=1089 Autor: Becas (Fernanda Ferreira) [ Europe/Lisbon ] 2007/08/13 14:39 |
Obesidade: Doença também atinge cães e gatos |
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Obesidade, doença que afecta cada vez mais pessoas, também atinge cães e gatos, muito por culpa dos donos, que os mimam com doces e os privam da prática diária de exercício físico, alertam veterinários. Em Portugal, não existem estatísticas e estudos epidemiológicos sobre a doença nos animais domésticos que permitam perceber se a sua incidência está a aumentar ou a diminuir, embora o negócio das rações de emagrecimento tenha vindo a crescer e o dos medicamentos de redução de peso esteja a dar os primeiros passos. Uma dezena de médicos e hospitais da especialidade de Norte a Sul do País ouvidos pela Agência Lusa reconhece o problema, atribuindo-o frequentemente à incorrecta alimentação e à falta de exercício físico. A responsabilidade de tais «erros» recai sobre os proprietários dos bichos. Mário Santos, director-clínico do Hospital Veterinário do Porto, é peremptório: «Sem dúvida que os cães e os gatos estão a ficar obesos, pois são o reflexo dos donos». A seu ver, os proprietários dos animais de companhia «têm pouco tempo» para os passear e dão «demasiada comida», incluindo guloseimas e restos de refeições, com muitas calorias, «como prova de amor». As más consequências sucedem. «A obesidade pode afectar a qualidade de vida do animal, já que este tem muita dificuldade em praticar exercício e brincar com outros animais e com os donos», avisa o veterinário. Por outro lado, o peso excessivo acelera o aparecimento de certas patologias, como hipertensão arterial, artrites, insuficiências cardíacas, respiratórias e hepáticas, cancro e diabetes, assim como complicações cirúrgicas, mau estado do pêlo e da pele e diminuição da esperança de vida. «Pode ainda piorar doenças persistentes, como a osteoartrose [que afecta as articulações]», adianta Mário Santos. No Hospital Veterinário do Porto, 30% dos cães e gatos «clientes» são obesos: têm 20% do peso acima do normal. Já no Hospital Animal do Sul, do Centro de Saúde Animal de Faro, que tem consultas de nutrição, a percentagem ronda os 5%. As causas da obesidade repetem-se: escassez de exercício diário e a «sobre-alimentação, pelo mau hábito dos proprietários em fornecerem guloseimas, como queijo, torradas com manteiga, fiambre, bolos e chocolates, em excesso», aponta o director-clínico da unidade algarvia, Jorge Serpa Santos. Ainda segundo o responsável do Hospital Animal do Sul, contribuem igualmente para as dificuldades no controlo do peso nos cães e gatos, «a ausência de hábito» dos donos em «levarem o seu animal a consultas regulares junto do médico veterinário» e o uso de «alimentos comerciais com proteínas de fraca qualidade, muita gordura, sal em excesso», sem vitaminas e ácidos gordos essenciais. Por isso, os especialistas aconselham os proprietários dos animais domésticos a darem, nas doses definidas nas embalagens, ou por indicação médica, para o peso, idade, raça, sexo, condição física e actividade do bicho, granulados concentrados com proteínas, amidos, lípidos, ácidos gordos essenciais, cálcio e fósforo. A comida cozinhada não é recomendada. «Não é balanceada em termos nutritivos e permite ao animal seleccionar, por exemplo, carne ou peixe e deixar no prato os legumes ou os amidos», explica Jorge Serpa Santos. Quanto à prática de exercício físico, a regra, em geral, para cães adultos e saudáveis é, de acordo com os médicos, correrem e passearem pelo menos três vezes por dia na rua ou num parque, ou mesmo brincarem e nadarem na praia. No caso dos gatos, que, por natureza, são mais caseiros, um dos truques está em lhes «fornecer brinquedos para que se entretenham» ou «distribuir a comida por diversos sítios da casa para obrigar o animal a procurá-la», sugere o director-clínico do Hospital Animal do Sul. Considerada pela Organização Mundial de Saúde como a «epidemia global» humana do século XXI, a obesidade caracteriza-se pela acumulação excessiva de gordura no corpo. Nos cães e gatos é detectável na base da cauda e sobre a linha da coluna ou quando há alteração da silhueta das costelas e ancas e o animal tolera pouco o calor ou as caminhadas e as corridas. Normalmente, a doença, que também pode ser provocada por distúrbios hormonais, surge nos bichos adultos, agravando-se com a velhice e após uma cirurgia de castração. Raças como Labrador Retriever, Golden Retriever, Cocker Spaniel, Basset Hound, Pastor de Shetland, Beagle, Cairn Terrier e Dachshund (cães) e Europeu Comum - doméstico pêlo curto (gatos) estão mais predispostas à obesidade, que quase sempre é diagnosticada pelos veterinários depois da ida do animal a uma consulta de rotina ou com sintomas de doenças associadas, ou para as vacinações. «Ainda é difícil explicar aos donos que a obesidade é uma doença porque, se assim não fosse, não havia animais obesos. Afinal, são eles [donos] que lhes põem a comida à frente», sustenta a médica veterinária Maria João da Fonseca. Em Portugal há uma gama variada de rações dietéticas e «light», de prescrição médica ou venda em grandes superfícies comerciais e lojas para animais, ambas com baixo valor calórico mas ricas em fibra, que, a par da prática de exercício físico, têm sido indicadas pelos especialistas para o controlo e tratamento nos cães e gatos da obesidade ou excesso de peso (este último define-se por peso superior em 10 por cento ao ideal). À venda, há apenas dois meses, o único medicamento comercializado no país para a redução do peso nos animais domésticos, o Yarvitan, que inibe a absorção das gorduras e diminui o apetite, destina-se, porém, a cães. Sendo recente, os seus benefícios estão a ser ainda avaliados pelos médicos mas já foram vendidas 1.500 unidades em 200 clínicas veterinárias. «Aqui, no hospital, não se está a vender muito. Não é prescrito mais vezes porque é novo, ainda não entrou bem nas rotinas. Por outro lado, o excesso de peso ou a obesidade muito raramente são a causa da consulta», advoga Maria João da Fonseca, que é médica no Hospital Veterinário do Restelo, em Lisboa. Para os especialistas, a prevenção continua a ser o melhor remédio para abafar os «quilos a mais» nos animais de companhia: exercício físico «q.b» e alimentação sem excessos, recompensas e a horas. Chocolates? Banidos das ementas. Diário Digital / Lusa 12-08-2007 11:01:00 Fonte: Diário Digital/Luisa, 12 de Agosto |