Soltam-se-me as palavras, pelas veias, directamente do coração para as pontas dos dedos e escrevo, escrevo, escrevo.... por um gatinho que um dia me deixou o coração partido.
É a ti, gato Julien que eu escrevo, são para ti estas palavras.
Um dia, quando te encontrei no gatil da União Zoofila, tinhas acabado de ser recolhido da rua e cativaste-me com os teus miados e a tua doçura. Estavas ali, magrinho e doente, e por negligência de quem um dia te abandonou à tua sorte sujeito a todas as impéries, apanhaste o FIV. O gato do Zoo, como carinhosamente te tratavam, ou o gato feio, por teres as orelhitas tortas e o rabo partido, lembro-me tão bem, foram apenas nomes provisórios que rapidamente passaram à história, quando eu te amadrinhei. Julien Le Beau, assim ficaste, porque não há gatos feios.
Eras o meu gatinho lindo e esperto, que me dava abracinhos e me fazia ronrons. Quem me dera ter podido trazer-te para casa, para que tivesses tido um lar e muito carinho, mas a vida nem sempre nos permite ter tudo o que desejamos, e por ali ficaste no nosso cantinho. Deitadinho no sofá que te ofereci, ali estavas tu , de bigodes e sorrisos à espera da tua latinha de mimo. Assim te guardo na memória, meu gato, assim te quero eu guardar para sempre, já mais gordinho, e rei do teu próprio país inventado.
Por várias vezes estiveste internado, por várias vezes resististe, gato valente, gato sobrevivente, gato velhote, gato adorado.
Mas hoje chegou a tua hora e partiste para o céu dos gatinhos.
Saltas e corres através do arco-iris, brincas com as nuvens desafiando o vento de fim de tarde e de noite és uma estrelinha que brilhará sempre perto da minha janela.
Rolam-se-me as lágrimas sem escolher sitio nem hora. Penso em ti, meu gato, e choro.
Julien, agora, já não vais sofrer mais.
Ana C
28.01.04
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