Artigo retirado de:
http://www.felinus.org/index.php?area=artigo&action=show&id=1039
Autor:
Becas (Fernanda Ferreira) [ Europe/Lisbon ] 2007/04/14 12:29

Os animais também pensam no futuro e guardam comida para os dias maus

É um pequeno gaio, da família dos corvídeos, de plumagem azul e castanha escura, e no estado selvagem tem um comportamento típico: armazena comida para os dias maus. E depois consegue lembrar-se que tipo de comida guardou e onde. Mas será que este comportamento corresponde a uma verdadeira capacidade de planear o futuro, como acontece com os seres humanos?

Um grupo de psicólogos e etólogos (especialistas em comportamento animal) da Universidade de Cambridge, no Reino Unido, resolveu responder a esta pergunta. E o resultado a que chegou, depois de uma série de experiências com estas aves, é surpreendente. Sim, senhor, o gaio planeia o futuro, quando na noite anterior guarda cuidadosamente o pequeno-almoço do dia seguinte.

Esta é mais uma pequena machadada na ideia de que só o ser humanos faz certas coisas, como ter consciência do que não sabe, construir ferramentas para um propósito concreto ou planear o futuro. Nos últimos anos, vários estudos de biologia do comportamento começaram a mostrar que há no reino animal mais complexidade a este nível do que até agora se pensava,

As experiências idealizadas pela equipa britânica para testar as habilidade do gaio - na verdade é uma espécie que só existe nos Estados Unidos, de seu nome científico Aphelocoma californica - consistiram em colocar as aves em gaiolas em que existiam caixas onde elas podia armazenar vários tipos de comidas.

Primeiro houve um período de treino, durante o qual elas eram colocadas em dois compartimentos diferentes e em manhãs alternadas durante seis dias. Num dos compartimentos tinham direito a pequeno- -almoço, no outro não havia nada para comer. Depois deste "tratamento", os gaios receberam finalmente comida ao fim do dia. E o resultado foi interessante: os que estavam no compartimento sem pequeno-almoço armazenaram mais comida do que os outros, na previsão da falta de comida no dia seguinte.

Outra experiência idêntica foi feita com vários tipos de comidas diferentes, e os gaios, mais uma vez armazenaram mais a comida que naquele compartimento não lhes seria dada no dia a seguir.

Para os investigadores da equipa, liderados por Nicola Clayton, estes resultados conseguem demonstrar pela primeira vez que estes animais podem espontaneamente planear o futuro, uma vez que não é a fome imediata que os move, mas a previsão (porque foram treinados nesse sentido) de que no dia seguinte não têm alimento se não o armazenarem eles próprios.

Parece muito elaborado, talvez demais para um simples gaio, mas esta é a interpretação dos cientistas sobre as suas próprias experiências. E como os gaios não falam, não haveria outra forma de lá chegar.

Quanto à teoria de que os seres humanos seriam os únicos a ter este tipo de comportamento, de antecipação do futuro, ela parece ficar assim posta em causa. "Estes resultados desafiam a tese de que essa capacidade evoluiu apenas na linhagem dos hominídeos", escrevem os cientistas. Uma reivindicação que, certamente, abre a porta a um mundo de novos estudos.

Autora: Filomena Naves



http://dn.sapo.pt/2007/04/08/sociedade/os_animais_tambem_pensam_futuro_e_gu.html