O Cherrie era o melhor amigo de todas as horas: das mais tristes quando nos limpava lágrimas da cara com a sua língua áspera e das mais alegres quando respondia a um sorriso com um brilho especial nos seus olhos intensamente azuis ou com uma brincadeira obviamente infantil. Viveu 17 anos. Acompanhou a nossa infância, a adolescência e viu-nos chegar à idade adulta. Morreu doente, velhinho e cansado. Passou mais de uma semana sem comer, só água! E penso que não se deixou ir mais cedo por não ter coragem de nos fazer sofrer. Resistiu até ao último segundo, até ao momento em que nós decidimos dar-lhe descanso e tranquilidade.
Também eu queria dizer algo, dar um pouco de mim, do meu amor por ti, a conhecer por esse mundo fora... Infelizmente o único sentimento que posso colocar nesta página de Internet é a dor de te ter perdido... Contudo, vivo alegremente por te ter conhecido...
Como pudeste deixar de existir em tão pouco tempo?
Isto foi o que sobrou da tua existência?
Um pouco de terra...
Umas folhas secas...
Pisadas por mim...
Restos de terra viva, que te consomem
Pobre animal...
Sempre foste como uma pessoa,
E agora, agora morres como nós...
Desapareceste...
Deixaste-me só...
Aqui sentada, rezo-te...
Aqui sozinha, espero-te...
Aqui tristemente, choro-te...
(Carla)
Faz hoje quinze dias que te deixámos partir. Não fiques zangado, mas à medida que o tempo vai passando, assim que a dor deixar de ser tão forte, vou trazer outro menino cá para casa. Vou tentar procurar na tua família. Um sobrinho ou um primo afastado. Ou mesmo um outro menino destes que não têm o amor que tu tiveste e andam à procura de um lar. Vou dar-lhe outro nome, para te garantir que nenhum menino te vai substituir. E as tuas coisinhas, as poucas que sobraram (a mãe ficou tão triste que nao podia olhar para as tuas coisinhas que chorava muito, então deitou fora) ficarão sempre guardadas. Mas preciso muito de um menino gato a miar cá em casa! Muito, mesmo!
Hoje ao chegar a casa pareceu-me ouvir-te miar. Tive a sensação de abrir a porta e descobrir-te de seguida, por detrás, cansado de estar à espera. A resmungar por um mimo, a implorar a minha presença. Foi só sensação. E passou. Ficou mais saudade ainda, meu menino lindo...
