"gatos"

Vou-vos contar a história incrível que se passou com uma amiga minha e um cãozinho verde.
Uma bela noite no final de Julho, um serão como tantos outros, ouviu-se raspar à porta... uma vez... duas vezes... perante a insistência ela foi ver. E para seu grande espanto o que surgiu à sua frente foi um pequenino cachorro .... verde!!! Não se via nenhum pelo nem se vislumbrava de que cor seria...
Era um cãozito já marcado pela infelicidade pois a sua cor esverdeada devia-se a um grave caso de sarna... Que fazer, que fazer? VET era a resposta óbvia! Nunca tal tinham visto - um animal assim tão atacado pela sarna... tão doente estava o pobre bebé que foi sugerida eutanásia... a célebre agulha para animais sem remédio ou para pessoas cobardes e sem vontade! Não! disse a minha amiga, alto e a bom som!! E prontificou-se a cuidar do cãozito verde, no matter what... Os vets avisaram: só dentro de um mês estará curado, a sarna pega-se aos duas patas e aos outros animais, todo o cuidado é pouco!! Sim venha o que tiver de vir...
E assim foi durante um mês o pobre Hector (pois assim se chama o cãozito verde) só teve carinhos através borrachas e plásticos, mil cuidados, todos os dias lavar esterilizar, antibioticar, banhar, com shampoo próprio e com - pasme-se - chá de folhas de eucalipto durante 30 dias seguidos. Isto trabalhando 9 to 5 e tendo mais 3 cães e 3 gatos (oficiais, alimentando mais de 20...) O pobre Hector cresceu triste. Todos lhe diziam "saiu-te a sorte grande, bebé!" mas de que lhe valia, se estava isolado e só, se tinha comida do corpo mas faltava a da alma, carinhos e festas... Até que... palavras mágicas foram proferidas!! CURADO!! Muitas festas recebeu o Hector nesse dia e recebe-as até hoje.
O cãozito verde era para dar quando curado.... mas quem teve coragem? É parte da família!!!
É uma homenagem a uma grande amiga, a quem muito admiro o elevado altruísmo e amor pelos animais - pelo mundo!! Parabéns Sand!
Ah.. o cãozito verde... é preto ;)

Um fantasma é ainda esse lugar

onde, soltando um som, pousas a vista;

mas neste pêlo negro o teu olhar

mais atento se confunde e despista.



como um louco que, no seu paroxismo,

às cegas bate o pé no escuro, tropeça,

e a quem de súbito absorve o abismo

almofadado da cela, e tudo cessa.



Todo o olhar que algum dia o tocou

parece então em si dissimular,

para sobre ele, ferino e agastado,

provocar arrepios e adormecer.



Mas eis que volta, de novo desperto,

o rosto, e, imóvel, o fixa no teu:

e tu redescobres o teu próprio olhar

no âmbar gemado das pedras dos seus

olhos redondos: estás aprisionado

como um insecto fóssil, já morto.

Rainier Maria Rilke

Há um mistério inerente a ti, parece que sabes algo de tão primordial que nos escapa... Vem daí a tua benevolente independência, tu sabes o essencial, nós vivemos de acessórios.