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Artigos  » Crónicas

O Diário da Cali

Olá. Eu sou a Cali e hoje começo a escrever o meu diário.

06/09/2003

Ainda não tenho 2 mesitos mas dizem que já passei por muito. Nem sabem como consegui sobreviver nos primeiros tempos da minha ainda curta vidinha.

Logo nas primeiras semanas da minha existência fui apanhada por um bicho grande, muito mau, que mordeu a minha patinha e ma deixou quase desfeita. Não tinha ninguém para cuidar de mim, por isso fiquei na rua, ferida e cheia de medo, ao frio, ao vento, ao calor abrasador e depois à chuva intensa.

As minhas feridas pioraram e começaram a sair uns bichos rastejantes de dentro da minha patinha. Doía muito. Estive quase a morrer. Quando dei por mim alguém me tinha deixado num sítio com muitos outros gatinhos. Uns senhores limparam os bichos feios de dentro da minha patinha, puseram um líquido e um pano à volta e depois deixaram-me numa gaiola. Deram-me comida e água, coisas que não soube o que eram durante muito tempo. A minha patinha começou a doer menos, mas o que me doía agora era o coração. Eu via os outros gatinhos através das grades e não podia ir brincar com eles. Vieram uns senhores – umas visitas, ouvi dizer – mas sempre que passavam por mim, diziam com uma careta “ai que feiote, este está tão maltratado” e depois levavam um dos outros gatinhos porque, ao que parece, eram mais bonitos e perfeitinhos. Eu já só queria que me dessem uma festinha, um carinho, mas estava ali numa jaula do canto, e as poucas pessoas que me viam só faziam caretas.

Comecei a ter muita dificuldade em mexer-me e já nem me levantava. Ao fim de uns 5 dias de ali estar chegou um grupo grande de jovens. Umas meninas pegaram nuns gatinhos e faziam-lhes festinhas e limpavam-nos, e eu resolvi miar, na esperança de que alguém me ouvisse. Também queria que me fizessem festinhas e que me limpassem. Mas estava sem voz, sem forças, e o meu miado quase nem se ouvia. Chegou-se ao pé de mim uma menina e eu olhei para ela a pedir ajuda, com a pouca voz que tinha. Esta menina não fez caretas. Em vez disso olhou-me fundo nos meus olhos, abriu a porta da jaula e deu-me festinhas. Soube tão bem. Eu tentei levantar-me para retribuir o carinho, mas ela ficou muito preocupada, dizia-me para eu não me mexer e depois começou a chorar. Juntaram-se mais meninas à minha volta e todas choravam. Não percebi porquê. Eu estava contente de finalmente me darem atenção, mas elas choravam.

Ouvi dizer que me íam levar ao veterinário para ver a minha patinha, e assim foi. Fui vista por uma senhora de bata branca que limpou as minhas feridas e me fez um penso todo jeitoso. Sabia que estavam a fazer o melhor por mim, por isso fui muito valente e nunca me queixei, embora me doesse muito estarem a mexer-me. Aqui, todos os dias me trocam o penso, mas depois de cuidarem de mim, eu continuo a ficar numa gaiola, sozinha...

Chamaram-me Calimero, por eu ser pequenina e por tudo o que me aconteceu ser uma injustiça. Mas acho que Calimero é nome de rapaz... Será que ainda não perceberam que eu sou uma menina?

08/09/2003

Tenho estado aqui a descansar. De vez em quando a senhora de bata branca vem ver-me, e troca o penso da minha patinha, que ainda me dói. Mas eu estou aqui sozinha, oiço barulhos estranhos e estou cheia de medo. De manhã esteve aqui outra senhora, abriu a gaiola e quis agarrar-me de repente. Eu assustei-me e mordi-a. Ela ficou muito zangada comigo. Não era minha intenção magoá-la, mas estava cheia de medo... agora sei que ela só queria limpar o sítio onde durmo.

Algumas das meninas que choraram naquele dia vieram visitar-me, deram-me festinhas e beijinhos e eu, em troca, ronronei e amassei ao colo delas. Até tentei pôr-me de pé na minha patinha para elas verem como sou forte. Elas tinham uma caixa que fazia clic e apontaram aquilo para mim várias vezes. Ouvi-as dizer que eram fotografias. Deve ser coisa boa porque elas estavam contentes.

10/09/2003

Tenho visto, quando me mudam o penso, as minhas feridas a fecharem. Ao início estava tudo muito feio. Tinha 3 ou 4 buracos muito grandes e outros mais pequeninos, não tinha pele e viam-se os meus ossitos. A minha patinha estava muito inchada, quase do mesmo tamanho do resto do meu corpo. A senhora da bata branca, a quem agora chamo tia Ana vet, disse que eu tinha a pata partida, mas que ela já tinha solidificado há algum tempo. Agora ainda está inchada, mas já parece outra... A tia Ana diz que quando eu crescer deixa de se notar que tenho um osso mais largo que os outros.

12/09/2003

Estão a nascer pelinhos na minha pata! Que bom... vou deixar de parecer um frango sem pele, como dizia uma das meninas que me veio ver. Acho que é a tia Noggy. É giro, o nome dela. A tia Ana vet diz que amanhã me vêm buscar. E finalmente descobriram que afinal eu sou uma menina. Já não era sem tempo!...

13/09/2003

Hoje tive direito ao meu primeiro banhinho. Até soube bem. Sinto-me muito mais bonita agora, penteadinha e cheirosa. Até acho que estou mais feminina! À tarde, todas as minhas tias vieram visitar-me: a tia Ana Ramos, a tia Lycia, a tia Noggy e a tia Raquel. Tantas tias... e eu que nem me lembro do que aconteceu à minha mamã... Acho que era um comité de despedida... estavam todas à espera da tia Filipa, que me vinha buscar. Ela chegou ao fim da tarde com o tio Pedro, e fui embora com eles numa caixa grande com rodas que ronronava muito, como eu. O tio Pedro teve uns assuntos para tratar por isso fiquei na caixa com rodas com a tia Filipa. Brinquei muito e adormeci nos ombros dela. Depois levaram-me para casa deles para eu jantar. Deram-me água e umas bolinhas de ração. A tia Filipa achou que eram muito grandes para mim por isso partiu tudo em bocadinhos muito pequenininhos para eu comer. Mas eu mostrei-lhe que comia tudo, que já sou grande e também sei comer as bolinhas de ração inteiras. Apareceram dois gatinhos, parecidos comigo mas maiores, e eu bufei para eles, e eles bufaram para mim também. Os tios ralharam com eles e eles fugiram. Bem feita!... é para aprenderem que não se devem meter comigo! Mas tive medo... Depois a tia Filipa e o tio Pedro voltaram a levar-me para dentro da caixa grande com rodas e levaram-me a casa da tia Carla. No caminho fizeram-me muitas festinhas, e a viagem demorou um bocadinho porque, segundo percebi, andaram perdidos (já ouvi dizer que é normal com eles). Lá deram com o caminho e a tia Carla e o tio Paulo estavam à minha espera à janela. Aqui nesta casa também existem dois gatinhos, um pequenino como eu, que pula muito, e uma maiorzinha, muito bonita e calma. Mas isto é tudo novo para mim, sei lá o que me querem fazer, por isso bufo a eles todos, porque não quero que pensem que sou uma franganota! O pequenino, a quem chamam pantera negra, também me bufa (bah para ele, como se eu tivesse medo) mas a mais velha, a Espy, não faz nada. Só quer é cheirar-me. Então eu bufo mais e mais, mas ela não desarma! Os tios estiveram todos a conversar durante muito tempo e depois a tia Filipa e o tio Pedro deram à tia Carla um líquido que eu preciso tomar e foram embora. A tia Carla deu-me muitas festinhas e eu ronronei no colo dela. Depois fez o meu quartinho na cozinha e foi dormir. Eu sei que me querem bem, mas estou assustada. É a primeira vez que estou numa sala tão grande sozinha. Tenho medo de me levantar daqui até para ir comer... mas estou aflita para ir ali às pedrinhas...

14/09/2003

Hoje a tia Carla encontrou-me deitada nas pedrinhas e ficou muito aflita. Achou que não era normal um gatinho fazer isto e ficou muito preocupada. Não soube como dizer-lhe, mas na realidade só não voltei para a caminha que ela me fez com uma camisola antiga dela porque estava cheia de medo de estar sozinha naquele quarto tão grande. Ao menos nas pedrinhas estava debaixo de uma mesa e senti-me mais protegida.

A tia Filipa telefonou e está a combinar com a tia Carla que vem cá ver-me todos os dias, porque a tia Carla sai muito cedo para o trabalho e elas estão preocupadas por eu ficar tanto tempo sozinha. Acho que sou muito sortuda por ter umas tias assim. A tia Carla veio aqui para perto de mim e eu já me senti mais à vontade para ir comer.

A tia Filipa ligou outra vez. Afinal em vez de vir ver-me durante o dia vai levar-me para casa dela para poder tratar de mim a tempo inteiro. Acho que a tia Carla ficou tristinha mas, ao mesmo tempo, mais descansada.

Já estou em casa do tio Pedro e da tia Filipa. Ainda em casa da tia Carla deram-me um bocadinho do tal líquido que a tia Filipa tinha comprado. Estão sempre a querer enfiar-me líquidos pela garganta abaixo. Que chatos!!! Mas fiz-me de difícil e foram precisos 3 para conseguirem vencer-me!!! Agora estou ao lado da tia Filipa numa caminha que fizeram para mim com um antigo igloo. Os tios têm muito que trabalhar esta noite por isso vão ficar aqui até muito tarde. Estão a bater com os dedos numa caixa baixinha com muitos botões e a olhar para uma caixa maior com muitas cores e letras. Nesta casa também existem dois gatinhos, mas eles não gostaram nada de me ver por aqui. Nisso tenho saudades da prima Espy, que sempre me tratou bem enquanto estive em casa da tia Carla - até estou arrependida de não ter sido mais simpática com ela. Estes gatinhos fizeram-me fsssst e mostraram cara de maus, mas eu fingi que não era comigo e fiquei muito quietinha a olhar para eles, minding my own business (como disseram uns senhores numa caixa grande com imagens que mexem que os tios tem na sala).

São 5 da manhã. Deve ser muito tarde porque os tios estão com um ar cansado. Eu só sei que está escuro e que estive muito tempo ao lado da tia Filipa. De vez em quando eu fazia miiiii para ela me dar umas festinhas e dormi umas sonecazitas ali ao lado dela. Agora os tios foram-se deitar e deixaram-me na casa de banho com um caixote com pedrinhas, comida, água e a caminha da tia Carla, que agora está forrada com uns jornais porque eu antes de sair de casa da tia Carla tinha feito um xixizito (opááá, saiu-me!). Vou brincar um bocadinho com as pedrinhas da caixa. São giras, azuis e brancas, e fazem barulho... yupiiiiiiiii...


Autora: Filipa Bastos




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- Mastah (Paulo Azevedo) [ Europe/Lisbon ] 2003/09/21 16:56

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» promao ( paula romão) » [ Europe/Lisbon ] 2005/07/04 01:20
chorei que nem uma madalena a ler esta primeira parte do diário...
vou dormir e leio o resto depois...

» fulgas ( ) » [ Europe/Lisbon ] 2004/10/13 15:50
Li a história no outro dia mas chorei tanto q nem consegui escrever nada. Volto, agora, mais recomposta. laugh.gif (Pq é q só se pode aceder a esta história qdo se pesquisa directamente? Pq n está em "Diários"?) É liiinda! A Cali é tão bonita q até dói. Nas fotos actuais vê-se qq coisa nos olhinhos, assim, nem sei, como se tivesse consciência da miséria q viveu mas tivesse conseguido vencê-la, s deixar q ela dominasse a sua vida. E tem consciência do amor q lhe dão e retribui-o. É uma daquelas nininhas especiais q nos aparecem sob a forma de gatinho (ou outro) e q nos tocam de uma forma q os seres humanos, viciados à partida, infelizmente, já n conseguem fazer tão facilmente. Muita saúde, muita sorte e muitas felicidades pª a Miss Cali e pª todos os q a ajudaram a crescer. smile.gif smile.gif

» AngelaMonte ( Angela Monte) » [ Europe/Lisbon ] 2003/11/22 17:17
que história mais linda!

» Becas ( Fernanda Ferreira) » [ Europe/Lisbon ] 2003/11/21 09:20
A becas na primeira noite que dormiu na minha casa, também dormiu em cima das pedrinhas, estava mesmo muito assustada.
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