Cherrie (Lídia Cristina)

Quando, no dia 18 de Maio, por volta das 18h me despedi dele, percebi que a vida nunca mais ía ser a mesma para mim. O coração ainda batia, não havia movimento no seu corpo, não havia gemido na sua voz, nem os beijitos que me arranharam o nariz tantas vezes. O meu menino sofria, desistira da vida e nós só fizemos o que os seus olhitos tristes e cada vez mais sumidos e escuros nos pediam. Deixámo-lo ir quando já nem água lhe entrava na goela. Apesar de todos os sinais óbvios de velhice há um mês atrás ainda miava com o mesmo fulgor e a mesma vivacidade de quando tinhas 15 dias. Alimentamo-lo a leite embebido em algodão. O bichano ainda teve que voltar para a mãe uns dias, mas logo voltou e se habituou a ver em nós a figura maternal e a família a que pertencia por direito indiscutível.
Nunca pensei que pudesse gostar tanto de um gato. Mas pude surpreender-me assim que o vi sair de casa enrolado na sua manta preferida, no colo da mana mais nova. Eu acobardei-me e aqui fiquei, a reter a última imagem do "meu menino lindo", o último segundo de vida que partilhámos juntos e chorar escondida.
Foi assim que decidi procurar um cantinho para ele, porque nunca me contaram que os animais íam também para o céu. Pois eu quando for, prefiro mil vezes encontrar-me com ele do que com certas pessoas. '
Acho que aqui sim! É um bom cantinho para ele. O paraíso dos gatinhos e das gatinhas onde posso vir recordá-lo e honrá-lo sempre que quiser. O meu menino lindo!!!