Esta carta foi publicada no Jornal Público e reflecte a impotência e revolta que causa um envenenamento. Sei do que fala porque passei por isso duas vezes.
Uma delas passei uma semana a dormir no chão ao lado do meu cão, a vigiá-lo constantemente, a respirar quando ele respirava e a parar de respirar quando não o ouvia. Uma dessas noites passei-a a chorar, abraçada a ele e a dizer "Não me morras, não me morras..." com medo que fosse o último dia que o tinha comigo.
Não há maior dor do que ver aqueles que amamos sofrerem sem podermos fazer nada, sem sequer podermos dar o nosso sofrimento em troca. Fica o alerta mais uma vez, pois se nos calarmos compactuamos com os assassinos.
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AOS MORADORES DA QUINTA DA ALAGOA - CARCAVELOS
A Cuba era uma cadela feliz. Bem tratada. Tratada com respeito. Na Terça-feira, 26 de Setembro, teve a infelicidade de comer na rua, enquanto fazia o seu passeio do fim do dia, alguma coisa envenenada. E morreu após uma noite de terrível agonia e muita tristeza de quem a acompanhou até ao fim.
Eu, a dona, estou triste e desiludida e revoltada.
Triste porque perdi uma amiga, digna da palavra fidelidade. Triste porque a minha filha fica triste de não a ver. Triste porque a alegria das brincadeiras da minha filha com a Cuba já não acontecem mais. Triste porque partilhei com ela o seu sofrimento final. depois de ter regressado a casa feliz e eufórica como de costume. Foi fulminante, doloroso e muito triste.
Desiludida com um país que não educa, onde não há civismo (são poucas as pessoas que vejo com o saco para apanhar os dejectos). Desiludida com as pessoas e o seu egoísmo. Colocar veneno na rua é um perigo para a saúde pública e é punido por lei. Colocar veneno na rua é um crime premeditado de pessoas más, mal formadas, egoístas. É um crime porque quem o faz vai comprar o produto, com má intenção, e aplica-o cobardemente às escondidas de todos, sabendo que está a cometer um crime. Além de criminoso, é pouco inteligente, é burro, estúpido porque não consegue pensar para além da maldade em que egoisticamente vive e perceber que matar assim os animais é desumano. Matar assim os animais é um perigo para todos, incluindo para o próprio criminoso. A saúde pública inclui os gatos abandonados mas também inclui os animais de estimação que merecem respeito, os adultos que respiram e passeiam numa terra minada com veneno, as crianças que brincam na rua, no chão e com tudo o que lhes apetece. As crianças podem apanhar do chão e ingerir qualquer coisa envenenada, respirar os odores tóxicos de um animal em decomposição que tenha morrido envenenado.
Revoltada porque a EMAC diz ter queixas recentes de vários animais terem já morrido envenenados. Revoltada porque ninguém quer assumir responsabilidades e ninguém quer fazer nada para pôr cobro a um problema que é de todos. Revoltada porque nenhuma autoridade quer receber a queixa entendendo que não é do seu pelouro e remetendo para "os outros", sejam eles quem forem, porque "talvez" seja com eles o tratamento deste assunto. Revoltada porque na Quinta da Alagoa, em Carcavelos, toda a gente sabe quem é o criminoso, porque já assistiram ou porque no trato com ele assim o deduziram, mas ninguém faz nada porque pensa, julga que nada pode fazer senão, talvez, justiça pelas próprias mãos e tornando-se assim tão criminoso quanto o que devia justamente ser julgado. Mas é possível e deve ser feita alguma coisa.
O que eu quero?
Alertar todos os donos de animais para que se acautelem ainda mais. E caso suspeitem que o vosso animal tenha ingerido alguma coisa má, dêem-lhe imediatamente muita água com muito sal para lhe provocar o vómito e contactem logo o veterinário.
Pedir a todos os moradores que, tal como eu já fiz, avisem, alertem, participem activamente na melhoria das condições do espaço onde vivem e, testemunhado um crime, não sejam cúmplices e actuem. No caso de testemunharem tal crime, ou suspeitarem de um acto que lhes pareça criminoso, avisem imediatamente as autoridades competentes para que venham ao local recolher as provas para análise a juntar ao processo. Avisem as autoridades, tentem reunir o maior número possível de provas e a vossa palavra vale como prova. Falar é um dom, é um direito que nos assiste e tem valor perante a lei.
Pedir às autoridades que assumam a responsabilidade pela punição deste crime que aconteceu, acontece e continuará a acontecer até que as entidades competentes façam o que lhes compete, investiguem, processem e levem à justiça quem comete crimes. Que não fique só pelos jornais como notícia sensação do momento mas que tenha seguimento e uma conclusão justa.
Pedir a todos que contem as suas histórias e o que sabem, e que tenham a humanidade de não permitir que tal horror aconteça à sua porta. Comuniquem e não tenham medo de se fazerem ouvir e de testemunharem contra aquilo com que nenhum ser humano, digno desse nome, pode concordar.
Todos, não só os moradores da Quinta da Alagoa em Carcavelos, mas todos os que infelizmente vivem situação semelhante, devem agir. Eu ajudo.
Porque um animal que vive connosco não nos faz apenas companhia, ensina-nos muito. Ensina-nos, principalmente, a sermos humanos!
Qualquer informação relevante sobre este assunto queiram por favor comunicar de imediato para:
Polícia de Carcavelos 214 570 228
Polícia Municipal 214 815 611 ou 214 815 635
Gabinete do Munícipe da CM de Cascais: gab.municipe@cm-cascais.pt e 800203186
Helena Gonçalves
Telefone: 91 930 37 21
E-mail: correiohg@hotmail.com
"Enquanto o homem continuar a ser destruidor impiedoso dos seres animados dos planos inferiores, não conhecerá a saúde nem a paz. Enquanto os homens massacrarem os animais, eles se matarão uns aos outros. Aquele que semeia a morte e o sofrimento não pode colher a alegria e o amor. (Pythagoras) "
Muita paz para vc, Carla. Deus proverá. Fuçadas carinhosas de Simba =^..^=
Como eu percebo... Esta história triste e revoltante lembra-me coisas que não queria lembrar. Há muitos anos, era eu adolescente, tinhamos um cão, o Zatar, cruzado de Lobo de Alsácia. Foi envenenado e morreu , não se conseguiu salvar. O desgosto foi enorme, ainda hoje a família tem saudades do Zatar, grande cão amigo e doido que só viveu connosco um ano...
Só quem passa pela dor de perder um amigo (de 2, 3, 4 ou mais patas) sabe a revolta e sofrimento que vai no coração.
Conheço bem a quinta da Alagoa até porque estudei em Carcavelos e ia lá quase todos os dias. À anos atrás os patos do jardim não eram assim muito bem tratados e depois de ser arranjado o jardim da quinta da Alagoa, a maioria desapareceu... talvez fossem para o tacho de alguém.
E lembro-me de porem veneno para as rolas (coisa que não compreendo) e aparecerem dezenas delas mortas...
Sei bem o que sentes, pois já passei pelo mesmo duas vezes.
A primeira, tinha eu 6 anos, e alguem lançou comida envenenada para o terraço onde estava o meu Serra da Estrela. Não o matou logo mas também não houve nada a fazer. Fiquei destroçada no dia em que foi levado para adormecer para sempre, porque não conseguia compreender tamanha maldade.
O segundo, tinha eu 16 anos, e perdi-o porque alguem deitou veneno para ratos em algum lugar (dito pelo veterinário). Continuei a não conseguir compreeder.
Agora tenho 40 anos e ainda não compreendo. Nem mesmo o veneno para ratos.
Atenção que os envenenamentos, muitas vezes, são provocados pela própria Câmara, através, exactamente do EMAC. Em Janeiro passado, os meus 2 cães ficaram envenenados devido a comerem ervas tratadas com herbicida espalhado pelas carrinhas desse instituto público, sem aviso prévio. Percebi que tinha sido essa a causa quando, 2 dias depois de o 2º cão ter adoecido, surpreendi uma carrinha a espalhar herbicida nos passeios. Não havia um único cartaz a avisar dessa ocorrência e o motorista da carrinha confirmou que "o moço dos papéis não tinha vindo". Obviamente, reclamei para lá, uma vez que é absolutamente proibido fazer isto, e deram-me muita razão e pediram-me para enviar email contando o caso e discriminando os gastos de veterinário. Continuo à espera (sentada, é claro) do reembolso. Felizmente, agi a tempo e ambos os cães ficaram bem. Mas a cadela de um vizinho morreu, exactamente na mesma altura.