O meu cão tem 11 anos. Ofereceram-mo no dia do meu 23º aniversário. O seu nome é Spooky.
Foi baptizado assim em honra do filme “A máscara” com Jim Carrey. Cada vez que o personagem dele se transformava e dizia : “Spooky!”, eu soltava sonoras gargalhadas, e foi mesmo sem saber na altura o que a palavra significava, que baptizei o meu cão. Adorava o som que saia da boca do actor, a forma como ele o dizia, o exuberante personagem verde de chapéu amarelo em que ele se transformava, a dança que fazia com aquelas coisas barulhentas na mão. Tchi-tchi-kibum, tchi-tchi-kibum, tchi-tchi-kibum!
Certa vez, ao som dessa música do filme dancei com o meu cão. É verdade. Pus o som alto, sai para a varanda de casa dos meus pais, levantei-lhe as patas da frente que apoiei nos meus ombros e dancei com ele. Muitas vezes revejo aquela cena, aquele focinho negro espantado e os olhos brilhantes de quem adora uma boa brincadeira. E a minha mãe a dizer :”Deixa o cão em paz, que o pões doido! Aí que maluca és valha-me Deus!”.
Agora aqueles lindos olhos, castanhos, brilhantes, esses olhos estão enevoados. As cataratas instalaram-se e talvez tenha chegado a hora de os deixar partir. Cada vez que olho para ele, para o olhar perdido, o andar meio trôpego, é isso que penso:”Chegou ou não a hora de te deixar partir, cão? Tens de me dizer… Não quero que sofras, não quero prolongar-te o sofrimento por ignorância ou egoísmo.” E vou dizendo para mim a palavra “eutanásia”, “eutanásia”, a ver se me habituo a ela. A ver se o hábito diminui a dor.
O meu cão tinha um olhar feliz. Eu sei. Já vi animais maltratados, aterrorizados, angustiados, encolhidos com medo duma mão que se estende para dar uma festa. O meu cão nunca se encolheu com uma mão estendida. É um animal confiante. Sabe que atrás da mão vem uma festa, uma escovadela no pêlo longo, uma carícia no focinho, uma palmada no peito, uma coçadela debaixo das orelhas mesmo como ele gosta.
O meu cão sabe. E é por isso que me custa ser agora eu a mão dos remédios, das injecções. Mesmo assim hoje apoiou a pata em cima da minha perna, só para me tocar e ficou quietinho enquanto lhe injectava a cortisona.
Hoje parece-me que os 11 anos com ele passaram demasiado rápido, que precisávamos de um bocadinho mais de tempo. Tempo para as corridas, para o salto ao eixo. Essa era a brincadeira preferida dele, passar por baixo das minhas pernas, fintar-me, ladrar a desafiar-me; o focinho quase colado ao chão, patas traseiras esticadas, o corpo posicionado como a rampa de lançamento de um foguetão.
Não era fácil pular por cima de 45kg de cão, mas eu nunca resistia à brincadeira e ele sabia. Difícil era convencê-lo a deixar-me trocar a roupa do trabalho pelo fato de treino. Ficava a chorar à porta, a reclamar até eu voltar para a nossa festa. Parecia que ele achava que aquele tempo em que eu desaparecia para trocar de fato, aquele tempo era precioso demais para nós. Era menos tempo de brincadeira, menos tempo com ele.
O meu cão envelheceu de repente. Um pouco à bruta, desajeitadamente, como quando entrava na sala e encalhava na mobília, confrontou-me com a verdade. Um dia sei que vou ter de o deixar partir. Sei também que esse dia se aproxima. E eu não queria, e apetece-me fazer como os putos mimados no supermercado: atirar-me para o chão, berrar, estrebuchar e dizer que não quero. Ouviste Pai?... Não quero!... E podia ser que com uma birra bem grande me deixassem ficar com o meu amigo, com o meu cão… Podia ser que as horas parassem e os dias não passassem e eu pudesse ficar com ele só mais um bocadinho, só o suficiente para mais uma dança de brincadeira, uma dança que durasse a eternidade…
Os nossoa amigos de 4 patas continuam a fazem-nos felizes mesmo quando estão doentes...não podemos sofrer por antecipação...eu também de vez em quando penso no futuro...e a tristeza é tão grande que tenho que me esforçar para mudar o pensamento. Não consigo mandar "adormecer" nenhum dos meus Amigos porque os equiparo ao sêr humano e como tal não sou a favor da Eutanásia. Aliviar o sofrimento com fármacos e analgésicos é o que faço até ao dia destinado por Deus.
Isso fez-me lembrar de uma cadelinha caniche que tive, desde que eu tinha 6 anos. A cadelinha faleceu com 16, chorei tanto...
Força minha amiga, o teu cãozinho adora-te
» eva ( rute) » [ Europe/Lisbon ] 2006/07/11 17:20
Perdi o meu melhor amigo no dia 13 de Maio deste ano.Tinha 14 anos...e foram 14 anos de alegria que passei ao lado dele. Ao ler isto as lágrimas começaram a escorrer pela cara abaixo...tenho tantas saudades.
Carla...é mesmo caso de se dizer: "aproveita enquanto ainda o tens ao teu lado"
Um beijinho mto grande para ti e par o Spooyky.
Também me fizeste chorar ( e estou no emprego) e estou a lembrar-me da minha Farrusca, tão longe de mim e sem poder protegê-la mais.
Carla, aproveita ao máximo a companhia do teu Spooky é só o que te posso dizer, quando ele partir vai levar o seu coraçãozinho repleto do amor e carinho que lhe deste.
Eles partem sempre demasiado cedo para nós, esses amigos que nunca nos mentiram, que nunca nos atraiçoaram, e que estiveram sempre ao nosso lado quando precisámos - já não podemos dizer o mesmo dos humanos. Estou certa que o teu Spooky ainda te vai alegrar por muito tempo... Força, Carla !
carla: Muita força!
Já me fizeste chorar...e eu sou um rio.
Deus sabe o que eu sofro depois de ler estas cosas e começo a pensar quandto tempo tenho ainda com os meus meninos...são pequenos eu sei...mas o tempo voa!
Felicidades para vocês...e que todos os dias do Spooky sejam recordados com muito amor!
mais uma de lagrima a correr... lembro-me do Gaspar, o olhar tb enevoado, o levantar lento de quem se queixa das articulações com o peso da idade, a Leish que o debilita um pouco... Que o teu Spooky tenha no tempo que tem para viver, a mesma qualidade de vida que tem tido até agora, penso que é o melhor que lhes podemos dar, e desejar.
O nó está na garganta, as lágrimas teimam em querer sair e fiz um esforço enorme para ninguém notar, enquanto li o teu testemunho e amor ao Spooky!
Nestas coisas, não há conselhos a dar, nem palavras reconfortantes que cheguem para mitigar a dor que sentimos.
Ainda hoje recordo com lágrimas nos olhos o meu cão preferido, que criei a biberon e que me deu grandes provas de amor durante 14 anos.
Só te posso dizer que a dor fica sempre no nosso coração, por vezes a saudade aperta mais. ´
Aproveita ao máximo o tempo que ainda lhe resta, quem sabe um milagre acontece. Muita força e jinhos para vocês!!!!!!!!
Sei bem o que estas a sentir, eu tenho um cão com 16 anos e está comigo desde os 12 anos. Sempre que penso que algum dia vou ficar sem ele, sinto um vazio e uma tristeza enorme.
Julgo que o melhor que temos a fazer é viver o dia a dia e aproveita-lo ao maximo na companhia dos nossos melhores amigos.
Beijinhos e muita Força para os dois.
Prontos fartei-me de chorar, tive de fazer uma retirada estratégica para a casa de banho e tudo. Sei bem aquilo que estás a sentir, as dúvidas e a dor que acompanham essa situação. Aproveita o tempo que tens com o Spooky, quanto ao resto faz o que com o vet decidirem que é melhor para o Spooky. Mas espero que ele ainda te possa fazer companhia mais tempo.
Um grande, grande abraço e festinhas ao Spooky.
É verdade, o tempo que passamos com eles parece sempre pouco, por vezes dou por mim a pensar nisso a olhar para os meus gatuchos e pensar "um dia destes qdo abrir os olhos eles já n estão cá"
Mas também sei que qdo eles se forem vão com a certeza que foram amados
eu decididamente não posso ler estas coisas, já estou para qui com os olhos inchados, imagino que esteja a ser muito dificil para si Carla, força e muita coragem para não permitir que o seu amigo sofra.
Opá... estou a chorar! Os nossos animais são muito especiais. Estou sempre a pedir aos meus para nunca me deixarem, para ficarem sempre comigo... Ao Spooky resta-me desejar ainda alguns anos de vida (com pouco sofrimento). Miaus dos meus bichaninhos.
E pronto, lá me fizeste chorar... o meu Ice também vai a caminho dos 11 anos e já começo a notar-lhe pequenas mudanças...
Mas sabes que mais? No nosso coração eles são eternos!!!
... não tenho palavras... a minha cara é um rio de lágrimas... Que o tempo que resta ao Spooky (quem sabe se ele não ultrapassa esta fase? há que manter a esperança!) seja muito bem aproveitado. Talvez sem saltos ao eixo ou corridas, mas com muitas festas no lombo e carinhos por baxo das orelhas. Um jinho aos dois