Reportagem: Abrir portas, retirar objectos das gavetas, acender luzes ou alertar para o choro de um bebé, são algumas das habilidades que os cães de assistência conseguem fazer. Lei ainda não autoriza a presença destes animais em muitos locais
A partir desta quinta-feira Simba vai fazer parte da vida de Ana Isabel, uma jovem de 22 anos, que sofre de uma doença neuro-muscular que lhe impede a mobilidade.
Ter um cão é algo normal, mas Simba marca a diferença com as suas habilidades de cadela de assistência. «Embora eu sempre tenha tentado ser independente, ela vai ajudar-me em pequeninas coisas que antes precisava de pedir a alguém», conta a jovem estudante de direito.
Acender luzes, abrir portas e gavetas, recolher objectos do chão, despir certas peças de roupa e puxar a cadeira de rodas são algumas das funções para que foi treinada. «A Simba é muito esperta, está sempre atenta aos meus movimentos», explica Ana Isabel.
A Ânimas - Associação Portuguesa para a intervenção com Animais de Ajuda Social - surgiu há cerca de três anos. Sem quaisquer fins lucrativos, tentam promover não só a terapia assistida por animais, como também a cedência gratuita de cães de assistência a pessoas com deficiências motoras.
Simba é o segundo animal cedido pela Ânimas. «Neste momento temos mais duas pessoas à espera», conta Liliana de Sousa, presidente da associação. Também pessoas com incapacidades auditivas podem beneficiar da presença destes cães. «São treinados para alertar caso um bebé chore ou toquem campainhas e alarmes.»
A selecção dos novos donos passa pela «avaliação das suas condições de saúde e do meio ambiente em que se inserem», explica a presidente da Ânimas. Quem recebe um cão de assistência compromete-se a assegurar todos os custos de alimentação, consultas médicas e bem-estar do animal.
Os cães mais utilizados são os Labrador Retriever e os Golden Retriever devido à sua «elevada capacidade de concentração e carácter dócil». No entanto, nem todos os animais destas raças podem tornar-se cães de assistência. A avaliação e treino começam quando são ainda muito pequenos. «São feitos vários testes para ver se são animais equilibrados. Não podem ser nem submissos nem dominantes e têm de demonstrar interesse precoce pela interacção com os humanos», explica Liliana de Sousa. «São treinados durante dez a doze meses e, antes de serem dados, têm um período de acoplamento com os novos donos.»
«A fase de adaptação correu muito bem, fizemos um esforço mútuo para lidarmos uma com a outra», relembra a jovem. «Neste momento temos uma amizade muito forte e ela já faz parte da família.»
Ana Isabel pretende ser acompanhada por Simba 24 horas por dia. «Na faculdade foram compreensivos e autorizaram a presença dela mas sei que noutros sítios poderei vir a ter dificuldades.» Embora estes cães sejam uma mais-valia ainda não estão previstos na lei. «A legislação apenas contempla os cães-guia, a autorização destes animais em locais públicos ainda depende da compreensão e boa vontade das pessoas», alerta a presidente da Ânimas.
Outra vertente desenvolvida pela associação é a terapia assistida por animais. «Um psicólogo pode requisitar a presença de um cão para o tratamento de casos específicos como já aconteceu, por exemplo, com crianças autistas», esclarece Liliana de Sousa. Os cães de assistência fazem ainda programas de actividades em lares de terceira idade, hospitais e escolas de ensino especial, sempre acompanhados por um técnico da Ânimas. «A interacção com o animal é positiva e leva bem-estar a quem é visitado», acrescenta.
Para que «mais pessoas tenham acesso a cães de assistência», a Ânimas está a programar o primeiro curso em Portugal, destinado à formação de duplas, cão e voluntário, que pretendam desenvolver actividades assistidas por animais. As aulas são em Oliveira de Azeméis e tem a duração de três meses.
Autora: Paula Cosme Pinto
Fonte:
http://www.portugaldiario.iol.pt/noticia.php?id=570141&div_id=291
Nota:
Agradecemos a indicação da notícia publicada no site Portugal Diário, pela utilizadora a20vilar(Ana Vilar)
|