CHANGDU, CHINA
Um burburinho bem audível passa através do hospício para doentes com cancro Hua Xi quando os mais recentes “médicos” fazem as suas rondas. As faces dos pacientes iluminam-se com sorrisos rasgados, e os corredores enchem-se com o ruído das vozes e dos risos.
O que falta a este grupo em termos de treino médico, é largamente compensado pelo seu comportamento ao pés das camas.
Conheça o Dr. Cães da China. Estes três – um Golden Retriever, um Shih Tzu e um arraçado de Chinese Toy – são apenas alguns dos mais de 300 “consultores caninos” da Fundação Asiática de Animais (FAA), uma organização a favor do bem estar dos animais com sede em Hong Kong. Estão a praticar “terapia animal” a teoria de que a companhia dos animais de estimação pode melhorar o bem estar mental dos pacientes o que, por sua vez, favorece a cura.
Num país onde é mais provável encontrar um cão num prato do que numa sala – muito menos num hospital – a FAA ajuda a dar visibilidade à luta dos cães, ao mesmo tempo que providencia conforto e ajuda a curar.
“Adoro a vida”, diz Yu Shu Jun, paciente. “Sempre que vejo cães, ou qualquer outra criatura viva, sinto-me tão feliz.”
Enquanto que a terapia animal é comum nos EUA e na Europa, aqui é um fenómeno relativamente novo. O Dr. Cães, que salva dezenas de cães errantes dos mercados de animais, e ajuda os donos a treinar os seus cachorros para participar, é o maior programa de terapia animal da China e um dos primeiros do género aqui.
“O Dr. Cães trouxe muita saúde e felicidade aos pacientes”, diz Jiang Jian Jun, médico. Ele diz que os cães alegram a atmosfera do hospital.
O Dr. Cães existe há 14 anos em outros cinco países da Ásia. Em Novembro passado começou a operar dentro da China. A FAA já trabalhava em Chengdu, onde tem uma base para a sua principal missão: resgatar ursos pretos asiáticos mantidos em cativeiro por causa da sua bílis. O programa fez uma curta investida em Pequim e tem em vista outras cidades chinesas enquanto as suas operações por toda a Ásia prosperam.
Os organizadores fizeram saber às organizações de saúde locais que tinham cães disponíveis para alegrar os pacientes. Para sua surpresa, o director do hospício de Chengdu, que estudou na Grã Bretanha e conhecia os benefícios da terapia animal, deu-lhe as boas vindas.
“Nunca imaginei que seríamos autorizados a vir ao hospital aqui”, diz Toby Chang, um nativo da China ocidental que dirige o programa em Chengdu. “É muito estranho.”
Esta é a 6ª vez que os cães visitam o hospício, e os pacientes e pessoal de saúde mostram cada vez mais entusiasmo com as visitas.
Apreensão inicial
No início houve apreensão, principalmente entre as enfermeiras, diz Rainbow Zhu, outro funcionário da FAA. Agora as enfermeiras reúnem-se à volta dos cães, tão entusiasmadas como os pacientes para os ver e brincar com eles.
Os cães vão de quarto em quarto, parando ao lado da cama daqueles que os queiram ver por dez a quinze minutos, por vezes sentando-se sobre o peito de um paciente à laia de visita. Dr. Dollar, o Golden Retriever, dá a pata quando mandado. É exigido que os animais passem por um teste rigoroso antes de entraram no corpo médico. Como característica principal, não podem ter tendência para morder.
A FAA planeia expandir o programa para o resto da China e fez incursões num orfanato em Changdu. Mas isto continua a ser uma tarefa difícil, num país onde os cães fazem parte da ementa há 2000 anos. A fundação calcula que 18 milhões de cães são comidos todos os anos na China. A maioria dos grandes restaurantes tem um ou dois pratos de cão e, por todo o país, a carne de cão é tão fácil de encontrar num qualquer grande restaurante como um hamburguer nos EUA.
“Amigos e não comida”
Ironicamente, à medida que a riqueza cresce, o apetite chinês por carne de cão aumenta, ao mesmo tempo que aumenta o número dos que possuem um animal de estimação, diz Jill Robinson, a inglesa que criou a FAA. A fundação começou a fazer terapia com cães como parte da sua campanha para educar os chineses acerca dos benefícios de cães e gatos como companheiros, chamando a sua empreitada de “Amigos e não comida”.
Embora os números totais de quem possui animais sejam difíceis de encontrar, os media estatais reportam que o número aumenta regularmente à medida que as cidades baixam o preço das licenças e tornam as regras mais leves.
Na capital, Pequim, há mais de um milhão de cães com dono, e deverá haver pelo menos outros tantos em Xangai, de acordo com estatísticas governamentais.
“A cultura já não é desculpa para a crueldade”, diz a Srª Robinson. “A prova é que agora se juntam a nós milhares e milhares de pessoas na China que pensam assim.
O Dr. Jiang não tem dúvidas que os médicos peludos se estão a desenvencilhar bem com os seus pacientes.
“Para muitas pessoas, um hospício é um local cheio de stress”, diz Jiang. “Os cães criam uma atmosfera mais alegre.”
Notícia publicada em http://news.yahoo.com/s/csm/20050601/wl_csm/odogs no dia 1 de Junho de 2005.
Traduzida por Alexandra Soares. |