Polidactilia ou os dedinhos extra do gato chamado Silêncio
O seu primeiro nome foi Mafarrico:
Autor: hecep
Silêncio como pendura
Uma, não muito bela tarde de quinta-feira, quando cheguei a casa, ouvi um gatinho pequeno a miar do outro lado da estrada. Miava alto e em plenos pulmões, não era possível ignorá-lo. Pedi ajuda à minha vizinha e fomos as duas tentar apanhá-lo. O bichinho tinha uns 3 meses e era todo branco.
O Mafarrico miava, miava e quando nos aproximávamos, fugia. Ainda por cima o local onde eu vivo é um meio rural, logo ele tinha sempre imensos sítios para fugir. O que é especialmente incompreensível é que quando nos afastávamos voltava a miar, quando nos aproximávamos ou fugia ou bufava e dava patadas.
Enfim, não o conseguimos apanhar.
A chegada
Autor: hecep
patinha da frente do silêncio
No Sábado de manhã, a minha vizinha voltou a ouvir o miado desesperado de um gatinho. Era o mesmo pestinha que na 5ª feira à noite perseguimos. Tinha subido de novo a uma sebe e miava desesperado. A minha vizinha lá o conseguiu apanhar e trouxe-o para a minha casa. Parece que a criatura tinha passado o dia a miar debaixo dos carros e as noites a miar na sebe. Mas não aceitava comida nem deixava ninguém aproximar-se.
Bem, lá o soltamos na minha casa de banho com tudo o que um gato precisa para sobreviver. Ele escondeu-se atrás do bidé a bufar. Pus-lhe comida debaixo do focinho e passado algum tempo lá deu o braço a torcer e comeu esfomeado. Para ele se sentir mais seguro pus-lhe uma casinha de espuma à disposição e ele refugiou-se lá dentro. Só rosnava e bufava quando espreitava para lá, de resto ignorava-me.
Autor: hecep
patinha traseira do silêncio
No processo de convivência com a criatura, mais que não seja porque precisava de usar a casa de banho, descobri que era surdo que nem uma porta. Muito ficou explicado, incluindo o miar completamente histérico e comportamento incoerente. Mas mais surpresas estavam para vir: ele, além do pêlo todo branco e muito sedoso, um olho verde e outro azul, tinha seis dedos nas patas. O que imediatamente me ocorreu é que seria descendente, em algum grau, do gato da minha vizinha, que também é surdo e branco e tem seis dedos nas patas.
Fiquei preocupada, pois para um gato surdo teria de arranjar donos muito especiais, que por cá não abundam. Abundarão em algum lado?
Polidactilia ou uns dedinhos a mais
Autor: hecep
Branquinho
O Borreguito, como lhe passei a chamar por me lembrar um cordeirinho branquinho e saltitão, fez grandes progressos em termos de comportamento. Começou a aceitar festas e brincadeiras e até a dar a barriguinha. De vez em quando ainda bufava e fugia mas foi perdendo a convicção, o que ele queria mesmo era estar com pessoas e gatinhos (tinha uma pequena gatinha tricolor com ele na casa de banho, também à espera de dono).
Ora a sua futura dona, que na altura já se tinha oferecido para ficar com ele, pelo menos temporariamente, enquanto se tentava encontrar donos lisboetas, enviou-me um endereço de uma página da internet sobre a polidactilia nos gatos, assunto vasto e com alguns aspectos complexos que sem dúvida me fascinaram.
A polidactilia, ou número superior ao normal de dedos na pata, é uma característica comum nos gatos, especialmente na Costa Leste dos Estados Unidos e no Sudoeste da Grã-Bretanha. Esta característica é comum a muitas espécies de animais, incluindo o ser humano, onde também existem algumas famílias em que surgem dedos a mais, razão por que foram muito perseguidas no passado. Ainda hoje em dia os gatos polidáctilos são encarados com alguma estranheza por fugirem à norma e são claramente discriminados da maioria dos programas de reprodução dos criadores.
Autor: hecep
patas do Branquinho
Há um tipo de polidactilia que pode ser prejudicial, mas a maioria dos tipos de polidactilias não prejudica nem beneficia os gatos. De uma forma geral é recomendado que os donos de gatos polidáctilos cortem com frequência as unhas aos mesmos para minimizar as hipóteses de ao crescerem estas magoarem o gato, até porque por vezes os gatos não conseguem afiar todas as unhas de igual forma. Existem mitos de que a polidactilia seria adaptativa para os gatos Maine Coon andarem na neve, 40% dos Maine Coons seriam inicialmente polidáctilos. Esta característica foi sendo suprimida pelos criadores pois os gatos polidáctilos não podem concorrer em exposições.
Existem inúmeras formas de polidactilia, desde aquelas que se limitam só às patas da frente ou só às de trás, até a formas que constituem um polegar oponível. O número de dedos também parece ser bastante variável. Alguns gatos, cujos dedos a mais formam um polegar, usam-no para manipular objectos com a pata. Têm sido feitos numerosos estudos referentes a polidactilia: embora possam surgir dedos extra devido a danos na extremidade dos membros do embrião, a maior parte dos casos de polidactilia parece ter origem genética, sendo uma característica herdada dos progenitores.
Conta-se que o escritor Ernest Hemingway tinha um gato polidáctilo que deu origem a uma população de gatos com esta característica na ilha de Key West.
Gatos polidáctilos açoreanos – uma possível explicação
Autor: hecep
Ninhada de 5 gatinhos polidáctilos 1 com número normal de dedos, 3 com 6 dedos, 1 com 7 dedos
As ilhas do triângulo (São Jorge, Pico e Faial) parecem ter um número de gatos polidáctilos superior ao normal. Não existem censos de felinos nas ilhas açorianas, pelos menos que refiram esta característica, mas os habitantes do triângulo parecem apontar o Pico como a ilha que maior número de gatos polidáctilos tem.
Ouvi uma história, já não sei precisar a quem, que uns imigrantes do Pico trouxeram dos EUA um casal de gatos brancos de olhos azuis com polidactilia e pelo semi-longo. Esses gatos seriam considerados “gatos de raça” aqui nas ilhas do triângulo e existiriam descendentes nas 3 ilhas, sempre com as mesmas características. Não deixa de ser curioso que a zona de Boston seja referida como tendo muitos gatos polidáctilos. Existe uma enorme comunidade de emigrantes açorianos no Estado do Massachusetts, não será talvez uma hipótese descabida a da polidactilia dos gatos açorianos ter sido importada dos EUA.
Autor: hecep
gatinho polidáctilo
Não fiquem a pensar que irão encontrar obrigatoriamente gatos polidáctilos nos Açores. Sendo uma característica incomum, é mais vulgar cá do que no continente mas a maioria dos gatos cá tem o número normal de dedos. De todos os gatos que tive e recolhi, apenas o Silêncio tinha dedinhos a mais, e para além dele só conheço o gato Branquinho da minha vizinha.
Mais recentemente uma gata de uma vizinha minha teve uma ninhada em que a maioria dos gatinhos são polidáctilos.
Silêncio – O sortudo
Autor: Sasha
As patas do Silêncio
Autor: Sasha
Os olhos do Silêncio
Como tudo está bem quando acaba bem, o meu pendura polidáctilo foi adoptado por pessoas espectaculares e é hoje um gatinho muito feliz.
Olhando bem para o Silêncio, estou-me a lembrar que tenho uma vizinha que também tem um gato branco, com os olhos de cores diferentes e surdo. Serão parentes? Não sei é se ele é polidáctilo.
Gostei muito do artigo Helena. Não sabia que era assim que se chamava essa caracteristica. O meu gato Pluto nasceu na Ribeira Seca, na Ilha de São Jorge, era polidáctilo, tinha 6 dedos nas patas da frente e pêlo semi longo.
Muito bom o artigo e confesso que sou uma grande fã do Silencio! A Sasha é uma sortuda por ter um gato tão lindo! Não sabia que existiam tantos gatoscom polidactilia.
adorei o artigo e desconhecia por completo essa caracteristica, Embora ja tenha visto aqui na Ilha (de Wight - sul de Inglaterra) um homeme com 6 dedos numa das maos (a outra nao vi porque estava no bolso) nao sabia que gatinhos tb podiam ter essa herditariedade. Os gatuchos sao lindos e o silencio e um espanto. Obrigado pelo artigo
Há muito anos (sim porque já sou um dinossauro) tinha uma colonia de gatos no quintal em que havia um macho tigrado que tinha 6 dedos em cada uma das patas da frente.
No centro de Lisboa
O Silêncio continua o mesmo borreguito saltitão que adora gatos e pessoas e não suporta estar sozinho. Tem um comportamento muito curioso... Entre muitas outras coisas, só come connosco por perto e, de preferência, a fazermos-lhe festas Deve estar com cerca de 7 meses e meio.