Cães aprendem a circular nos transportes públicos
Com o objectivo de sensibilizar a população em geral sobre a presença de cães nos transportes públicos e treinar estes animais no Metro de Lisboa, oito donos e os seus animais efectuaram ontem um passeio entre as estações do Oriente e do Rossio, em Lisboa.
O treinador Mário Bouçadas explicou ao CM que “o utente de um transporte público deve saber um conjunto de regras para poder transportar o seu animal”. E exemplificou: “Na via pública, o animal tem de circular de trela e com açaime. No transporte, mesmo individual, o cão tem igualmente de ter o açaime. Isto porque pode haver uma travagem brusca e uma pessoa cair sobre o animal e este na reacção, ao sentir-se ameaçado, pode morder”, diz Bouçadas, treinador na Cinostaff.
Nesta escola, onde é ministrada a obediência básica para cães, os donos são também informados que, sempre que possível, devem evitar as escadas rolantes nas estações. “Nas escadas rolantes o animal pode ficar com a cauda, o pêlo ou uma pata presa e, estando em perigo, poderá causar danos às pessoas”, precisou.
“Se for obrigatório passar por uma escada rolante, o cão terá ser transportado ao colo”.
No interior da estação do metro o cão deve permanecer sentado o mais afastado possível do local onde o comboio pára. Com os animais em fila à espera do Metro na estação do Oriente, e perante o olhar surpreso dos utentes deste transporte, Mário Bouçadas explicou então aos donos que a entrada no composição só seria efectuada depois de todos os passageiros entrarem.
Já no interior do Metro, dono e animal devem permanecer de pé na parte mais afastada das portas de entrada, de preferência junto das portas que não abrem. “Para o animal não ficar com stresse”, sublinhou o treinador, “o dono deve de estar permanentemente a falar com ele, a chamar pelo seu nome e a dar-lhe biscoitos”.
Mário Bouçadas explicou ainda que o dono de um cão quando circula no Metro deve usar um chapéu preto quando o seu animal é treinado desde há dois anos. “Se o cão tem uma maturidade inferior o dono deve usar um chapéu branco”, tudo para as outras pessoas saberem se estão perante um cão treinado ou jovem aprendiz.
Os donos tiveram ainda oportunidade de testar o treino dos animais numa esplanada. Os mais treinados podem permanecer sem trela, pois só se levantam com autorização.
DONOS COMENTAM PASSEIO
"UM POUCO NERVOSA"
“No início a Cuca [cadela pastor alemão de dois anos de idade] mostrou-se um pouco nervosa quando entrou no Metro. Mas no final estava muito mais calma. O mais difícil para o cão é se ele é nervoso e não está habituado a andar de transportes públicos.” João Romero (13 anos)
"EM CASA PORTA-SE PIOR"
“Fiquei admirado. O Dany [um cão rafeiro de 14 meses] portou-se muito bem neste passeio de Metro. Nem estava à espera, porque lá em casa só quer é brincadeira e não obedece a ninguém. Confesso que porta-se muito melhor na escola de obediência.” Francisco Adónis (79 anos)
DEVERES E DIREITOS
PRIMEIRO NO MUNDO
Portugal foi o primeiro país no Mundo a legislar a obrigatoriedade de trela e açaime, em 1925, aquando da publicação da primeira lei da raiva. Hoje, as estatísticas apontam para uma população canina no nosso país de 2,6 milhões de exemplares.
CÃES-GUIA EM 1982
A legislação portuguesa permitiu a presença de cães-guia nos transportes públicos a partir de 1982. Em relação aos restantes animais domésticos a legislação previu essa possibilidade em 1995 “desde que os animais estejam devidamente acompanhados e acondicionados”, “salvo motivo atendível como perigosidade, estado de saúde ou de higiene”.
TÁXI COM SUPLEMENTO
Metro de Lisboa, CP, Transtejo, e Carris permitem o transporte de cães, bem como de outros animais domésticos. Em todos estes transportes a circulação de animais é gratuita. A excepção vai para os táxis, onde o utente terá de pagar um suplemento de 1,50 euros.
Autor: João Saramago
http://www.correiomanha.pt/noticia.asp?id=150770&idCanal=10
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