Cem cães de gado entregues a pastores do Norte e Centro têm cumprido a função de proteger os rebanhos dos ataques de lobos, contribuindo também para evitar a extinção do lobo ibérico, disse fonte da organização responsável.
O presidente do "Grupo Lobo", Francisco Fonseca, que falava à margem de uma acção de informação sobre "a utilização do cão de gado na protecção dos rebanhos", em Vila Real, referiu que há cada vez mais pastores a solicitarem estes cães para proteger os seus rebanhos dos ataques daqueles predadores.
Até ao momento foram entregues 100 cachorros das raças Castro Laboreiro, Serra da Estrela e Rafeiro do Alentejo, a pastores do Norte e Centro do país no âmbito de um projecto que, segundo o responsável, tem como objectivo contribuir para a conservação do lobo ibérico.
Tanto o lobo ibérico como algumas raças de cães de gado estão "ameaçadas de extinção", pelo que o projecto do "Grupo Lobo" está a recuperar a utilização destes cães na protecção de rebanhos e a contribuir para a conservação de cães e lobos.
Segundo o responsável, "os prejuízos no gado causados pelo predador são uma das principais causas da perseguição que é movida ao lobo".
O "Grupo Lobo" é uma associação independente e sem fins lucrativos criada em 1985 com o objectivo de contribuir para a conservação do lobo ibérico e do seu habitat em Portugal.
Os cachorros são entregues aos pastores que registem prejuízos mais elevados e, a partir do momento em que são integrados no rebanho, os cães devem ser mantidos permanentemente com os animais que mais tarde deverão proteger.
O contacto humano deve ser reduzido ao mínimo e limitado ao pastor e familiares, pois isto permitirá que os cachorros estabeleçam laços sociais fortes com os animais do rebanho e, consequentemente, que os protejam em caso de perigo.
Por parte dos pastores, a aceitação tem sido muito boa, confirmou Domingos Moura, que possui um rebanho de 210 cabras na Samardã, Vila Real.
"Tenho dois cães há cerca de dois anos e é verdade que agora me sinto muito mais seguro", salientou.
Segundo frisou, desde que os Castro Laboreiro lhes foram entregues pelo "Grupo Lobo", os ataques ao seu rebanho diminuíram e os prejuízos causados decresceram.
Opinião idêntica tem António de Além, proprietário de um rebanho com 400 cabras, que referiu que, ao acompanharem constantemente o gado, os cães assustam os predadores e diminuem a possibilidade de ataque.
O "Grupo Lobo" associou-se também ao projecto europeu Life, lançado recentemente e que abrange instituições portuguesas, espanholas, francesas, italianas e croatas com o objectivo "criar condições para que seja possível uma coexistência entre os predadores e o homem".
Para o efeito, segundo Francisco Fonseca, vão continuar a ser entregues cães aos pastores e ainda vão ser estudadas as populações de predadores existentes e promovido um projecto turístico que vai levar os turistas a visitar os habitats naturais destas espécies selvagens.
O responsável considera que "qualquer estratégia de conservação do lobo tem obrigatoriamente de passar pela diminuição dos conflitos com as comunidades rurais, de forma a melhorar a aceitação do predador".
Por isso defendeu que tem que ser combatida a "imagem do lobo mau" que ainda existe na sociedade.
PLI.
Lusa/Fim
Vila Real, 27 Jan (Lusa)
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