Burocracia estrangula vida a 1.250 animais
Obrigada a abandonar a casa-mãe devido à construção do Estádio do Dragão, a Protectora dos Animais continua sem meios para albergar milhares de cães e gatos. O dinheiro não chega e o Instituto de Estradas e a Câmara do Porto não se entendem.
São 1.100 cães e 150 gatos em desespero, vai para dois anos e meio, por um lar em condições. A casa-mãe, junto ao demolido Estádio das Antas, está condenada a desaparecer, e os alojamentos provisórios, no antigo Matadouro, em S. Roque, estão sobrelotados. A Sociedade Protectora dos Animais do Porto (SPA) desespera pela indemnização, devida á cedência de terrenos que ocupava para a construção do Estádio do Dragão. Encalhou tudo num problema burocrático entre o Instituto de Estradas de Portugal e a Câmara do Porto.
No antido matadouro municipal do Porto, os animais “endoidecem” com a falta de espaço, com a humidade e com o constante ruído dos comboios que passam a poucos metros. Nas Antas, os 200 “hóspedes” padecem de problemas de saúde complicados. A Câmara do Porto comprometeu-se a arranjar uma localização para as novas instalações da SPA, onde esta pensa construir 300 canis, uma clínica veterinária e um hotel, mas até hoje manteve-se muda.
Animais vistos como lixo
“Já tentei contactar o presidente Rui Rio para saber como vai a indemnização mas até hoje o máximo que consegui foi falar com os seus acessores”, disse ao 24horas Ermelinda Martins, a presidente da instituição. Sendo certo que a SPA terá de abandonar as actuais instalações, assim que o Plano de Pormenor das Antas seja publicado, a instituição vê-se a braços com outro grave problema: a falta de um espaço erguido de raiz ao serviço dos animais.
“Há falta de sensibilidade das autarquias e das pessoas. Os animais são vistos como um aterro sanitário ou uma lixeira. Ninguém os quer por perto. Quando houver um espaço, só depois do acto consumado é que o publicitaremos. Então aí já ninguém molestará os pobres animais”.
DIREITOS VIOLADOS DIARIAMENTE
Presentemente, a Sociedade Protectora dos Animais do Porto apenas recolhe animais feridos, atropelados e abandonados, sendo a recolha de animais vadios difícil, devido à superlotação das instalações. Uma outra dificuldade da associação é a condição financeira desfavorável. A sobrevivência da instituição está depentende das quotas dos associados e das receitas da clínica veterinária. Para agravar a situação durante este período de férias, seis animais eram abandonados diariamente à porta das instalações, em clara violação aos direitos dos animais. Por mais leis que se façam, se não houver fiscalização...
Artigo de “Jacinto Velhote”, publicado no Jornal 24horas, no dia 10 de Setembro de 2004. |