Canil-gatil da câmara não tem condições para acolher animais. Uma centena de felinos domésticos está agora alojada em antigas capoeiras daquele ex-líbris da vila. As novas instalações municipais só estarão concluídas no final de 2010.
Quem visita a Quinta da Regaleira, um dos ex-líbris da vila de Sintra, apercebe-se rapidamente da colónia de gatos que vive no local e tenta conquistar a simpatia dos turistas, sobretudo na zona da cafetaria. Mas a maioria dos visitantes desconhece que, desde Agosto, foram alojados na quinta quase uma centena de gatos recolhidos pelo Gabinete Médico Veterinário Municipal.
"Fomos chamados para ajudar a controlar a colónia residente com cerca de 30 animais, e daí surgiu a ideia de recuperar este espaço para acolher provisoriamente os nossos gatos, dado que o nosso canil vai entrar em obras", explica a veterinária municipal Alexandra Pereira (ver caixa). A iniciativa teve o apoio da Fundação CulturSintra e passou pela recuperação de 11 capoeiras em tempos usadas para acolher aves exóticas.
Agora, os 90 hóspedes brancos, pretos, amarelos, azuis ou malhados ocupam com satisfação o parapeito, junto à vedação, ou as inúmeras plataformas de madeira. Uns para aproveitar o sol de Outono, outros, quem sabe, para contemplar sabiamente a mística do espaço. "Não é qualquer um que tem esta vista directa para o castelo de Sintra", comenta Alexandra.
Uns são mansos e pedem colo, outros escondem-se, revelando os traumas dos maus tratos ou do abandono. "Temos uma zona ampla e outra reservada para os mais assustados, mas já se nota a diferença no comportamento, porque alguns eram bravos e agora são meigos", revela.
É o caso do "Riscas", um gatinho cinzento e preto que não perde tempo e salta para os ombros do jornalista. "Era bravo, mas agora que provou mimos não quer outra coisa", explica uma das tratadoras.
Sónia começou como voluntária e agora está a colaborar ao abrigo de um acordo com o Centro de Emprego. "É uma experiência óptima e compensa tudo. O mais difícil é resistir a levá--los todos para casa… Já tenho três gatos e um cão, mas acho que vou ficar com o 'Riscas' ,porque ele não me larga", conta a tratadora enquanto o bichano lhe salta para os ombros. "Muitas vezes são os animais que acabam por escolher o dono", conta.
Apesar da quantidade, são raros os arrufos e o sossego só é quebrado na hora da comida (cerca de oito quilos de ração distribuída diariamente). O segredo está no enriquecimento ambiental feito por voluntários que criaram uma grande variedade de espaços. "É o Seteais dos gatos, um "hotel" de luxo, não só pelo enquadramento, mas também pelo trabalho de enriquecimento", admite o vereador responsável pelo Gabinete Médico Veterinário Municipal.
Apesar das boas condições, o vereador Luís Patrício recorda que a maioria dos "hóspedes" estão ali pelas piores razões. "São animais que não têm culpa de terem ido parar às mãos de humanos sem cuidado, para não dizer mais". E o autarca não esconde o orgulho no trabalho feito em quatro anos.
Diário de Notícias, 4 de Outubro de 2009
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