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Hoje um amigo adormeceu nos meus braços |
Autor: Leonor Calaça | | Bob, o Pateta |
Hoje um amigo adormeceu nos meus braços.
Não, isso é mentira. Hoje um amigo adormeceu nos braços de outra, braços indiferentes e habituados. Deveriam ter sido os meus. Hoje um amigo dormiu e abriu um buraco no meu coração.
Bob. Bob, o Gato. Bob, O-Dos-Abracinhos. Bob, O-Que-Se-Baba-Quando-Está-Feliz. Agora dormes um sono eterno, e eu choro todas as vezes em que não tive tempo para mais um abracinho, ou quando resmunguei porque me sujaste a camisola. Volta, Bob, podes-me sujar todas as camisolas, eu prometo.
O dia também chorou a tua partida. Cairam lágrimas do céu quando saíamos do local onde te levámos, humanos traiçoeiros que te prometeram que tudo estaria bem. O céu vestiu-se de luto e recebeu mais uma estrela sorridente.
Bob, prometo pensar em ti sempre e gostar de ti igual. Prometo pensar mais em ti quando eras um gatarrão e menos quando ficaste tão magrinho que te sentíamos os ossos nos abraços fortes que só tu sabias dar. Prometo recordar os teus passos furtivos na cama, quando pensavas que dormia, para te colares à minha cara com esse nariz húmido e rosado. Prometo esquecer que prendias os lençóis e me acordavas, prometo até obliterar da minha mente o teu hálito capaz de murchar a mais corajosa das flores.
Vou pensar em ti como o gatão musculado e para sempre bebé, sempre a querer mimo e atenção. Vou sempre sentir a força incrível das tuas patas nos meus ombros, o único gato que conheci que dava abraços como gente humana. Ainda sinto as tuas carícias no meu queixo, mais fraquinhas nestes últimos dias, mas sempre necessitadas de demonstrar amor.
Hoje um amigo adormeceu, a ronronar, abriu um buraco no nosso coração e sarou-o entrando nele para sempre. Estarás sempre connosco, Bob, serás sempre o nosso bebé grande. Descansa em paz.
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