A União Zoófila (UZ) tem vivido dias loucos. Entre quinta-feira e sábado, na sequência de um apelo feito na Internet pelos seus voluntários e reforçado por reportagens da SIC e da TVI, uma onda de solidariedade abateu-se sobre o respectivo canil/gatil, no bairro lisboeta da Furnas, onde vivem cerca de 900 cães e 200 gatos.
O objectivo era angariar agasalhos, no Inverno, para os animais que vivem naquelas instalações e que de noite permanecem ao ar livre, sob temperaturas muito baixas. Mas a receptividade do pedido superou largamente as expectativas: durante três dias formaram-se filas de pessoas ao portão e os lugares de estacionamento na zona escassearam. Todos queriam contribuir com alguma coisa.
Quem ontem lá entrasse deparava-se, logo à esquerda, com um monte de grandes sacos do lixo com mantas, tapetes, cobertores, colchas, alcatifas, edredões. Ao longo do canil, vários estrados serviam de base a mais amontoados de sacos. E numa das arrecadações quase não havia espaço para entrar: estava cheia do chão ao tecto.
As ofertas não se resumiram aos agasalhos. Perante a adesão inicial e as dezenas de telefonemas que receberam, as responsáveis pela UZ alargaram o leque dos pedidos. E foi assim que começou a chegar outro tipo de material, desde ração a casotas, passando por produtos de limpeza, de farmácia (seringas, algodão, Betadine) e de construção civil (cimento, tintas).
Algumas empresas responderam ao apelo. A Brisa formou uma "corrente" de donativos e comprou 40 camas; o Corte Inglês fez o mesmo e ofereceu uma arca congeladora; o Jumbo trouxe ração e outros produtos alimentares; uma firma de construção civil deixou uma máquina de soldar, além de se voluntariar para ali efectuar obras de graça sempre que tal for necessário; uma fábrica de lanifícios da Covilhã levou uma camioneta carregada com cobertores. É impossível mencioná-las todas...
Telefonemas de todo o país.
As muitas pessoas que passaram pelo canil nestes dias - fosse para oferecer algo, para ajudar na azáfama (a presença de um grupo de escuteiros do Marquês de Pombal terá mesmo sido providencial nas arrumações) ou simplesmente para passear com a família - levaram a que um número anormal de cães e gatos fossem adoptados. Só no sábado saíram oito cães, um novo recorde. E, no total, desde quinta-feira foram 29 os animais que encontraram dono.
"Pessoas de todo o país telefonaram-nos a dizer que não tinham como enviar as coisas. Disse-lhes que havia animais em todo o país e canis perdidos e com imensas dificuldades. Se não conseguem fazer-nos chegar os donativos, que procurem nas suas zonas e nos arredores", afirmou Luísa Barroso, da direcção da UZ.
No que diz respeito a mantas e similares, a oferta superou largamente a procura. E será por isso que parte substancial do que a UZ recebeu será doada ao Cantinho dos Animais Abandonados, em Viseu, um canil/gatil particular onde vivem 400 animais e que, por falta de ajudas, está a passar por um período difícil. Os excedentes também poderão passar por outro Cantinho dos Animais, o de Beja.
Por RODRIGO CORDOEIRO
Segunda-feira, 26 de Janeiro de 2004 /jornal Publico |