"Para reflectir"
[ Europe/Lisbon ] 2006/09/11 15:19 "Como pudeste???"
Quando era um cachorrinho, eu distraía-te com as minhas traquinices e fazia-te rir.
Chamavas-me tua criança e, apesar de um certo número de sapatos mastigados e um par de almofadas destruídas, eu tornei-me na tua melhor amiga. Sempre que eu fazia algo de errado, tu abanavas o teu dedo para mim e dizias: "Como é que pudeste?..." mas depois tu arrependias-te e rolavas-me no chão para me coçar a barriga. O meu treino demorou um pouco mais do que o esperado porque tu estavas sempre muito ocupado, mas juntos conseguimos arranjar uma solução...
Eu lembro-me daquelas noites em que me aninhava em ti na cama e ouvia as tuas confidências e sonhos secretos - acreditava que a vida não poderia ser mais perfeita. Nós os dois fazíamos longos passeios e corridas no parque, andávamos de carro, e parávamos para um gelado (eu ganhava só a bolachinha porque "gelado não faz bem aos cães" - dizias tu) e eu apanhava longos banhos de sol enquanto aguardava a tua volta para casa ao final do dia.
Aos poucos passaste a gastar mais tempo no trabalho com a tua carreira e levavas mais tempo a procurar uma companheira humana. Eu esperei por ti pacientemente, confortei todas as tuas mágoas e desilusões, nunca te repreendi pelas más escolhas que tomaste, e vibrei de alegria nas tuas chegadas a casa e quando te apaixonaste... Ela, agora tua esposa, não é uma "apreciadora de cães" - ainda assim eu recebi-a na nossa casa, tentei mostrar-lhe afeição, e obedeci-lhe. Sentia-me feliz porque tu estavas feliz.
Então vieram os bebés humanos e eu reparti contigo o entusiasmo. Eu estava fascinada pelos seus tons rosados, os seus cheiros, e queria muito tratar deles também. Mas ela e tu tinham medo de que eu pudesse magoá-los, e eu passei a maior parte do tempo a ser expulsa para outra sala, ou para a minha casotinha... Oh, como eu queria tê-los amado, mas eu tornei-me numa "prisioneira do amor."
À medida que foram crescendo, tornei-me amiga deles. Eles agarravam-se ao meu pêlo e levantavam-se sobre perninhas trôpegas, enfiavam os dedos nos meus olhos, examinavam as minhas orelhas, e davam beijos no meu nariz. Eu adorava isso tudo, e o toque das suas mãozinhas - porque os teus toques agora eram tão raros - e eu teria-os defendido com a minha própria vida, se fosse preciso. Eu esgueirava-me para as suas camas e juntos esperávamos pelo barulho do teu carro de regresso.
Houve uma altura, quando alguém perguntava se tinhas um cachorro, em que tu tiravas uma foto minha da tua carteira e contavas histórias sobre mim. Nos últimos anos tu apenas respondias "sim" e mudavas de assunto. Eu passei de "teu cão" para "apenas um cão" e tu reclamavas de cada gasto que tinhas comigo. Agora tu tens uma nova oportunidade de carreira noutra cidade, e vocês irão mudar-se para um apartamento onde não são permitidos animais. Tu tomaste a decisão acertada para a tua "família", mas houve uma altura em que eu era a tua única família.
Fiquei excitada com o passeio de carro até que chegamos ao canil. O local tinha cheiro de gatos e cães, de medo, de desespero. Tu preencheste a papelada e disseste "Sei que vocês encontrarão um bom lar para ela"... Eles mexeram os ombros e lançaram-te um olhar compadecido. Eles compreendem a realidade que espera um cão de meia idade, mesmo um com "papéis". Tu tiveste que libertar os dedos do teu filho da minha coleira enquanto ele gritava "Não, papá! Por favor, não deixes que levem o meu cão!". E eu preocupei-me por ele, e com a lição que tu tinhas acabado de lhe dar sobre amizade e lealdade, sobre amor e responsabilidade, e sobre respeito por todo o tipo de vida. Tu deste-me um mimo de adeus na minha cabeça, evitaste o meu olhar e, educadamente, recusaste levar a minha coleira e trela contigo. Tu tinhas um tempo-limite para te habituares e agora eu também tenho um.
Depois partires, as duas simpáticas senhoras que te atenderam comentaram que tu provavelmente sabias já com alguns meses de antecedência que terias de tomar aquela decisão e não fizeste nenhuma tentativa de encontrar um novo lar para mim.
Elas sacudiram a cabeça e disseram "Como é que pudeste?". Elas são tão atenciosas para nós aqui no canil, quanto os seus ocupados horários lhes permitem.
Elas alimentam-nos, claro, mas eu perdi o meu apetite à dias atrás. De início, sempre que alguém passava pelo meu alojamento, eu corria para a frente, na esperança de que fosses tu - que tivesses mudado de ideias - que isto fosse tudo um pesadelo.... ou eu esperava que ao menos fosse alguém que se importasse, alguém que me pudesse salvar. Quando percebi que não poderia competir com os alegres cachorrinhos que lá estavam, inconscientes dos seus próprios destinos, nas brincadeiras para chamar a atenção, afastei-me para um canto distante, e aguardei.
Ouvi os seus passos quando ele veio até mim ao final do dia, e segui-o ao longo do corredor para uma sala separada. Uma sala deliciosamente silenciosa. Ele colocou-me sobre a mesa, acariciou as minhas orelhas, e disse-me para eu não me preocupar. O meu coração acelerou-se na expectativa do que estava para vir, mas havia também uma sensação de alívio. A prisioneira do amor tinha esgotado os seus dias.
Como é da minha natureza, estava mais preocupada com ele. O fardo que carrega é demasiado pesado, e eu sei disso, da mesma maneira que conhecia cada um de seus humores. Ele gentilmente colocou um torniquete à volta da minha perna da frente, enquanto uma lágrima corria pela sua face. Lambi a sua mão da mesma maneira que costumava fazer para confortar-te há tantos anos atrás. Ele habilmente espetou a agulha hipodérmica na minha veia. Quando senti a picada e o líquido frio se espalhou através do meu corpo, deitei a cabeça sonolenta, olhei para dentro dos teus olhos gentis e murmurei "Como é que pudeste?".
Talvez por ter entendido o meu latido canino, ele disse "Sinto muito!", abraçou-me e apressadamente explicou que era o seu trabalho, fazer com que eu fosse para um lugar melhor onde não seria ignorada, ou maltratada ou abandonada, nem ter que me desenrascar para sobreviver - um lugar de amor e luz, tão diferente deste lugar terrestre. E com a minha última gota de energia tentei transmitir- lhe com uma sacudidela da minha cauda que o meu "Como é que pudeste?" não era dirigido a ele.
Era em ti, Meu Amado Dono, que eu estava a pensar. Pensarei em ti e esperarei por ti eternamente. Possa alguém na tua vida continuar a demonstrar-te tanta lealdade...
retirado do site da ABRA (http://www.abra-associacao.com)
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[ Europe/Lisbon ] 2006/07/26 11:29 "O TESTAMENTO DE UM CÃO"
Minhas posses materiais são poucas e eu deixo tudo para você...
Uma coleira mastigada em uma das extremidades, faltando dois botões, uma desajeitada cama de cachorro e uma vasilha de água que se encontra rachada na borda.
Deixo para você a metade de uma bola de borracha, uma boneca rasgada que você vai encontrar debaixo da geladeira, um ratinho de borracha sem apito que está debaixo do fogão da cozinha e uma porção de ossos enterrados no canteiro de rosas e sob o assoalho da minha casinha.
Além disso, eu deixo para você a memória, que aliás são muitas.
Deixo para você a memória de dois enormes e meigos olhos, marrons, de uma caudinha curta e espetada, de um nariz molhado e de choradeira atrás da porta.
Deixo para você uma mancha no tapete da sala de estar junto à janela, quando nas tardes de Inverno eu me apropriava daquele lugar, como se fosse meu, e me enrolava feito uma bolinha para pegar um pouco de sol.
Deixo para você um tapete esfarrapado em frente de sua cadeira preferida, o qual nunca foi consertado com o tipo de linha certo.... isso é verdade.
Eu o mastiguei todinho, quando ainda tinha cinco meses de idade, lembra-se?
Deixo para você um esconderijo que fiz no jardim debaixo dos arbustos perto da varanda da frente, onde eu encontrava asilo durante aqueles dias de verão.
Ele deve estar cheio de folhas agora e por isso talvez você tenha dificuldades em encontrá-lo. Sinto muito!
Deixo também só para você, o barulho que eu fazia ao sair correndo sobre as folhas de Outono, quando passeávamos pelo bosque.
Deixo ainda, a lembrança de momentos pelas manhãs, quando saíamos junto pela margem do riacho, e você me dava aqueles biscoitos de baunilha.
Recordo-me das suas risadas, porque eu não consegui alcançar aquele coelho impertinente.
Deixo-lhe como herança minha devoção, minha simpatia, meu apoio quando as coisas não iam bem, meus latidos quando você levantava a voz aborrecido... e minha frustração por você ter ralhado comigo.
Sua vida tem sido mais alegre, porque eu estive ao seu lado!
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[ Europe/Lisbon ] 2006/07/26 11:27 "PEDIDOS DE UM CÃO A SEU DONO"
1 - Minha vida dura apenas uma parte de sua vida. Qualquer separação de você significa um grande sofrimento para mim. Pense muito nisso, antes de me adoptar.
2 - Tenha paciência e me dê um tempo para que eu possa compreender o que você espera de mim. Você também precisa me ajudar a desenvolver bons hábitos.
3 - Deposite o seu carinho em mim, pois eu vivo disso e vou compensá-lo por isso, mais do que ninguém.
4 - Nunca guarde rancor de mim. Se eu aprontar alguma, não me bata e não me prenda de castigo. Você tem outros amigos além de mim, tem o seu trabalho, seu lazer, mas eu só tenho você.
5 - Converse comigo. Eu não entendo todas as suas palavras, mas me faz bem ouvir sua voz falando só para mim.
6 - Pense bem como você, seus amigos e visitas me tratam. Eu jamais esqueço.
7 - Quando for me bater, lembre que eu poderia facilmente quebrar os ossos da mão que me machuca, mas que eu não reajo por respeito.
8 - Se alguma vez você não estiver satisfeito comigo porque estou de mau humor, preguiçoso ou desobediente, imagine que talvez a minha alimentação não esteja me fazendo bem, ou que tenha estado muito exposto ao sol ou que meu coração já esteja ficando cansado e fraco.
9 - Por favor, tenha compreensão comigo quando eu envelhecer. Não pense logo em me abandonar para adoptar um filhote. Você também envelhecerá.
10 - Quando chegar meu último e mais difícil momento, fique comigo. Não diga "não posso ver isso". Com sua presença tudo ficará mais fácil para mim. A fidelidade de toda a minha vida deveria compensar este momento de dor.
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[ Europe/Lisbon ] 2006/07/26 11:23 "A PRECE DE UM CÃO"
Trate-me com carinho, meu amado mestre, pois nenhum coração, em todo o mundo, será mais agradecido do que o meu.
Não tente me educar com pancadas, pois embora eu possa lamber-lhes as mãos entre um golpe e outro, a sua paciência e compreensão ensinar-me-ão mais rapidamente que espera que eu aprenda.
Fale-me muito, pois sua voz é a doce música do meu mundo, como pode perceber pelos ardentes sacolejos de minha cauda quando ouço seus passos.
Quando o tempo está frio e chuvoso, conserve-me dentro de casa, pois sou um animal doméstico, sem preparo para enfrentar as intempéries do tempo e a minha maior glória será o privilégio de sentar-me aos seus pés.
Conserve minha vasilha com água fresca, pois além de não poder reclamar quando ela está seca, também não posso dizer-lhe quando estou com sede.
E, mestre, quando eu estiver bem velhinho, se ficar sem saúde e visão, por favor, não me vire as costas. Faça-me o bem de deixar que a minha vida de dedicação e fidelidade possa se extinguir suavemente e eu o farei sentir, com meu último alento, que sempre me senti seguro em suas mãos.
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[ Europe/Lisbon ] 2006/07/26 11:16 "O que é um cachorro?"
1. Cachorros passam o dia inteiro deitados, esparramados sobre a poltrona mais confortável da sala;
2. Eles podem escutar uma embalagem de comida sendo aberta a um quarteirão, mas não te escutam quando você está no mesmo aposento;
3. Eles parecem estúpidos e adoráveis ao mesmo tempo;
4. Eles rosnam quando não estão contentes;
5. Quando você quer brincar, eles não querem brincar;
6. Quando você não quer brincar, eles querem brincar;
7. Eles sabem como suplicar muito bem...
8. Eles vão te amar para sempre se você acariciar a barriga deles;
9. Eles deixam seus brinquedos por toda a parte;
10. Eles fazem coisas nojentas com a boca e depois tentam te dar um beijo.
Conclusão: ELES NÃO PASSAM DE HOMENS UM POUCO MENORES.
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Autor: Isabel Mello (Isabel Mello )
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