[ Europe/Lisbon ] 2005/06/16 13:44 "o meu gato"
«O meu gato percorre as veredas dos objectos confortáveis com respeito sonoro e táctil pela fragilidade. A velha jarra arte nova do casamento dos meus pais, um vaso poeirento que lhe cheira a selvas perdidas no interior de continentes desaparecidos no diâmetro irrisório de uma hemácia. De um texto. De uma falácia.
Trava a corrida, na sua própria solidão, a poucos centímetros da janela, majestade de montanha no milagre da casa. Fica perto dos vidros... não estão partidos. Olha-me com os olhos postos no infinito matemático, com equações resolúveis na água do banho, das feras, do urso e do jaguar. Sabe, nos olhos, de cios, de revoluções ao luar.
O meu gato vê deuses alados na ausência, que talvez não seja o modo mais seguro de os ver, mas ganha uma vigilância nobre, de aristocrata dos Balcãs, no tumulto do fim de século, nos julgamentos nus da moral».
(josé carlos martins)
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