[ Europe/Lisbon ] 2005/03/11 21:59 ""As palavras que nunca te direi""
"Passados três meses ainda não tenho coragem suficiente para falar sobre aquele momento, aquele em que te vi pela última vez.
29 de Dezembro de 2004...
Teria feito tudo o que estivesse ao meu alcance, tudo! E fiz! Apenas para te poder dar vida!
Se ao menos tivesse percebido antes que não estavas bem, se pudesses ter a capacidade de poderes dizer o que estavas a sentir, talvez hoje ainda estivesses aqui comigo!
Só de pensar que sofreste, dói-me tudo cá por dentro.
Mas para mim o pior é pensar que nas últimas horas que tiveste de vida te possas ter sentido abandonada, não me perdoo ter te deixado ali, sozinha, frágil, ligada a soro e a sofrer, naquele sítio frio e acima de tudo, sem a companhia das pessoas a que estavas habituada.
Contudo, acredita que pelo quadro clínico que me apresentaram e que de entre as duas únicas hipóteses que me deram para escolher, optei pela que seria melhor para ti.
E confiamos em quem, pela teoria, sabe mais que nós, para quê?
Ainda hoje me lembro das palavras "não resistiu". Dito assim não parece nada, mas naquele momento senti que tudo tinha acabado, justamente quando começava a ter novamente esperanças.
Só me restava olhar para ti uma última vez, para que na minha memória ficasse uma imagem diferente daquelas que não me saíam da cabeça, que eram de dor e sofrimento.
Então dirigi-me para a pequena sala e lá estavas tu quietinha, linda como sempre, como costumavas estar enquanto dormias aquele soninho bom...
A diferença é que não irias abrir os olhos, levantar a cabeça ao de leve para ver quem era, ou melhor, tu já sabias que era eu, apenas me olhavas como se me quisesses dizer "Olá" para voltares ao sono tranquilo.
Será eterno o momento em que te toquei pela última vez no narizinho como sempre fazia, te fechei os olhos e disse "Fica bem, pequenina!", tentando conformar-me que seria um adeus para sempre.
Tudo acaba, mas as muitas lembranças que tenho e os bons momentos passados na tua companhia, que guardo cá dentro, fazem te eterna, pois o que não é esquecido, vive para sempre e foi apenas o fim de um ciclo, o último de muitos dias!
Para ti, a companheira de 9 anos, que eu não esquecerei...
FOFINHA "
Isto tem pouco de diário, mas esse também já não posso fazer.
Foi uma forma de partilhar o que sinto, acho que precisava de o fazer.
Ao mesmo tempo, é um modo de lhe agradecer tudo o que ela foi e dar-lhe um momento, um espaço, algo onde fique eterna.
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